DIA SEM TABACO

O dia 31 de maio foi escolhido como o Dia Sem Tabaco. Não me cabe aqui repetir tudo que se diz sobre os malefícios do fumo, com ou sem exageros. Campanhas são boas por isso: chamam a atenção das pessoas sobre riscos ou benefícios de determinada coisa, atitude ou hábito.

Eu nasci e me criei numa região onde boa parte da economia era gerada pelo plantio do tabaco. A Companhia Souza Cruz talvez tenha uma grande participação na profissionalização da agricultura. Numa época em que não havia fiscalização sobre a saúde de galinhas criadas soltas; de porcos criados em semi confinamento; de gado cuja raça era escolhida conforme a finalidade, se de leite, de tração ou abate sem que houvesse acompanhamento de órgãos públicos para garantir a saúde da carne ou do leite, a Souza Cruz saia na frente, orientando os agricultores sobre a melhor qualidade de tabaco a ser plantado nesta ou naquela região.

O hábito de fumar, que era charme há quatro décadas, foi sendo gradativamente discriminado até cair na proscrição em que hoje se encontra. Justiça seja feita, nenhuma campanha contou ou conta com a colaboração ostensiva da parte atingida, os fumantes. O fumante sabe que a última coisa que seu organismo necessita é uma dose horária de fumaça para funcionar.

A campanha é salutar, embora tenha seus exageros e afirmações de difícil comprovação, projeções e previsões apresentadas como se fossem estatísticas exatas. Pela mídia, o câncer de pulmão e garganta passou a ser exclusividade de fumantes, o que é uma afirmação leviana. Quando falam no fumante passivo, sujeito aos mesmos malefícios do ativo, não se pode deixar de perguntar: Engolir fumaça pela boca é mesmo coisa que respirá-la? Se a fumaça do cigarro não pode ser respirada, a fumaça do trânsito pode? O nariz tem funções diferentes dependendo do produto que respira? Profissionais de saúde concordam com essas balelas apenas porque a causa antitabaco é nobre?

Isto nos lembra outras campanhas. Notadamente aquela que defende a lei de tolerância zero para álcool e volante. Antes da lei, 15% dos acidentes automobilísticos eram atribuídos aos motoristas alcoolizados. Com a lei, as estatísticas subiram para 85% e começou a se entender por “alcoolizado” qualquer pessoa que tivesse ingerido qualquer quantidade de bebida alcoólica. Os acidentes continuam acontecendo, nunca se vendeu tanta bebida como se vende hoje, embora os motoristas que dirigem depois de beber sejam um ínfima parte do que eram antes.

Por tudo isso, a campanha merece aplausos. Apenas esperamos que não seja necessário pintar com cores tão lúgubres para atingir os efeitos. Afinal, se o Brasil reduziu de 35% para menos de 15% a sua população de fumantes, não há necessidade de gerar fumaças falsas para que o fumante – colaborador ostensivo da campanha – se conscientize que ele não está fazendo bem para si mesmo.

Luiz Lauschner – Escritor e empresário.

lauschneram@hotmail.com

Luiz Lauschner
Enviado por Luiz Lauschner em 01/06/2011
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