ano novo? é preciso pensar...

do ano que arrasto, dos dias que tomaram conta de mim, sobra o cansaço, a desilusão permanente de quem não consegue apear a mentira, a maldade, a guerra que nos rodeia.

foi longo o circo de meses em que o palhaço ocultou lágrimas avinagradas pelo que se passou à sua volta.

são longas as ideias que corroem a determinação de levar o eco da palavra ao inatingivel do colapso auditivo...

um ano no fim.

o tempo renova-se, os dias irão acontecer como que paridos por uma sucessão de factos.

factos adiados, levados como pendentes ao novo ano, outros a surgir no constante deglutir da vida.

rasgam-se os meses, queima-se um ano, ficam as cinzas de tantos destroços que incendiaram a vida...

...com guerra, com tortura, com morte, com fome, com amor, com ternura, com ódio, com traição, com desprezo...

...tudo numa constante sucessão que, agora, se traduz em mais um ano.

um ano de renovadas esperanças, um ano que se deseja feliz e, contudo, bem perto dos votos de cada um, morrem crianças, sobrevivem famélicos e o homem, esse ser fantástico, cobre-se de despreziveis atitudes na sua constante e desmedida ambição, na sua continua cruzada de senhor da guerra...

...senhor das suas conveniências, subjugando povos, traindo conceitos para que o "seu" mundo, seja o mundo dos seus próprios interesses, falseando a fraternidade que apregoa e nega nas suas atitudes.

está aí um novo ano.

uma nova montra de efemérides irá perpetuá-lo como ano sinónimo de qualquer coisa.

se ele fosse a lembrança futura, como luz da paz,da fraternidade e da solidariedade, nada melhor poderiamos legar às gerações presentes e futuras.

contudo, o egoismo que campeia por todo o lado, mostra bem o contrário.

a ganancia faz-se notar e os jovens, já sabem o lhes está reservado, que herança lhes deixamos.

a saturação e a devastação do meio ambiente, a excessiva industrialização e consequente poluição, o esbanjamento dos recursos naturais...um mundo exaustivo de atrocidades que a história julgará sem poder condenar os seus criminosos.

...porque esses, esses já não habitarão o mundo dos vivos.

aí está um novo ano. será recebido com pompa e alguma circunstância, com votos de esperança e ânimo para melhores dias.

será?

esperemos que sim.

que ninguém esqueça que o destino está nas nossas mãos, nessas mesmas que constroem o futuro, que fomentam riqueza e que uns quantos guardam para si ou teimam em destruir.

quando tivermos consciência da força que somos, talvez nos capacitemos que o mundo poderá ser melhor.

é preciso querermos.

se quisermos, é pensando nessa força, no futuro daqueles que lançamos à vida que é imperioso, forçoso, urgente, que os votos de feliz ano novo, não sejam uma mera formalidade de cortesia, de calendário.

afinal, qualquer ano será feliz e próspero, se todos dermos as mãos, se fizermos por isso.

então, sim, os nossos votos terão razão e sentido de ser.