VIDA OU MORTE: UM SEGUNDO PARA DECIDIR

O país ficou estarrecido com o incidente ocorrido na cidade de São Paulo, quando o canteiro de obras do metrô, da chamada linha amarela, mais precisamente na futura estação de Pinheiros desabou, tragando para suas profundezas tudo quanto estava na superfície, entre caminhões, equipamentos e um micro ônibus que passava no local com cinco pessoas a bordo.

Pela dificuldade e condições do local, sem contar as chuvas intermitentes, foram centenas de horas de trabalho para o resgate dos corpos, que mobilizou bombeiros de todos os batalhões da cidade em duas frentes de operações: uma na superfície e outra no túnel. Foram horas de expectativas e sofrimentos, sobretudo para os familiares das vítimas, que no início ainda nutriam esperanças de que algum fosse encontrado com vida, esperanças que se desvaneceram à medida que o tempo extinguia todas as possibilidades.

Em meio ao evento, muitos foram os depoimentos de pessoas que estavam próximas ao local na hora do desabamento, de outros que já haviam reclamado de rachaduras, opiniões de técnicos, engenheiros, autoridades, advogados etc...

Ocorreu um depoimento interessante de um jovem que relatou à imprensa que solicitara a parada do micro-ônibus, a poucos quarteirões das obras, e o motorista desse, sem motivo que justificasse não parou, deixando-o furioso. Prossegue dizendo que ainda estava blasfemando em relação ao ocorrido quando de longe pôde ver o veículo ser tragado pela grande movimentação de entulhos.

O que mais impressionou, no entanto, foi o depoimento de um amigo do motorista do caminhão que morreu soterrado, que contou que tal companheiro foi um dos primeiros a notar as primeiras movimentações de terra, os estalos e abandonar o caminhão e o local, além de avisar a muitos colegas... Mas, relata ainda que em dado momento resolveu voltar ao caminhão para buscar sua carteira de motorista, quando o desabamento o tragou com toda sua fúria, engolindo-o num átimo de segundo, cena que foi assistida por esse depoente e por outros.

Percebamos as lições oferecidas pelo difícil episódio, deixando-nos levar a reflexão a cerca das forças invisíveis em nossas vidas, e neste caso livrando o rapaz de tomar o veículo, salvaguardando sua integridade física, enquanto que de outro lado, essas mesmas forças permitiram retornar ao encontro da morte o motorista que já estava praticamente salvo.

Quem acompanhou o ocorrido pela mídia, pôde observar também o grande número de pessoas que tiveram que abandonar suas casas ou apartamentos, abruptamente, e entre eles alguns que não puderam ao menos pegar seus pequenos pertences, valores ou documentos. E o que muito chamou a atenção foram os lamentos, os clamores, as revoltas daqueles que diziam morar naqueles imóveis há vários anos, inconformados e transtornados, ao invés de agradecidos por estarem vivos, terem sido salvos a tempo e estarem seguros no conforto de um hotel.

O que é preciso compreender é que estamos passando por tempos de mudanças abruptas, nas quais devemos investir o máximo em nossa vigilância, e nos prepararmos para ter que deixar a qualquer instante as coisas que em nossa ilusão pensamos possuir.

Não estamos imunes de ter que tomar uma decisão repentina como a de deixar nossa casa ou permanecer nela; entregar nossa carteira ao assaltante ou tentar fugir, e assim por diante. Uma decisão motivada pelo instinto do apego geralmente tem conseqüências fatais!

A vida é muito mais que o corpo, disse o Mestre de todos os mestres, deixando-nos claro que devemos investir prioritariamente na vida e não na matéria agregada e perecível.

É muito fácil, no entanto, tecermos considerações quando se trata da vida dos outros, mas e quanto a nós: será que estaríamos preparados para grandes mudanças, perdas, reviravoltas ou mesmo uma morte repentina?

É preciso aprender a priorizar nossos conceitos, valores e potenciais, afinal, o que temos assistido pela mídia, envolvendo tragédias, desabamentos, enchentes, tsunamis e tudo mais, pode ocorrer conosco a qualquer instante. Ou achamos que estamos aqui imunes, na condição de privilegiados telespectadores das tragédias humanas?

Tião Luz
Enviado por Tião Luz em 20/01/2007
Reeditado em 12/11/2012
Código do texto: T352802
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