DESCULPE MINHA CARA DE PAU, MAS SOU CORRUPTO

Um amigo me enviou, por meio eletrônico, o livro O CHEFE do Ivo Patarra. A recomendação no corpo do e mail “você precisa ler isso” me remeteu a minha juventude. Lá recebíamos cópias mimeografadas das falcatruas dos governos militares. Guardávamos isso discretamente, líamos escondido, no banheiro e passávamos adiante, porque era perigoso ser pego com material subversivo na bolsa escolar, que podia ser revirada sem nenhuma cerimônia por alguma autoridade. Não se fazia comentários, apenas cochichos.

Meu amigo queria um feed back do livro O CHEFE. Respondi na cara de pau: “Não li”. Realmente, não li. Mais de 400 páginas de pesquisas, com nomes sobrenomes, quantias desviadas no escândalo do Mensalão e eu não me interesso em ler. Mudanças de tempos: antigamente, os governos militares atropelavam a democracia, mas puniam corruptos. Se você falasse alguma coisa, tinha de prestar contas abaixo de tortura. Hoje, denúncias claras, comprovadas, resultam em nada. São cuidadosamente tratadas como produtos de frustrados. Como eu, o povo se cansou de ver corruptos se tornarem tão poderosos com o dinheiro roubado que são tão ameaçadores como os militares dos anos de chumbo.

Não se pode falar do Sarney que além de riquíssimo tem seus exércitos de amigos mamando nas tetas sempre fartas do governo. Renam Calheiros, Collor, Pallocci, José Dirceu? Intocáveis. Os brasileiros honestos correm para não entregar sua declaração de renda com atraso. Sustentam um governo que vende seriedade; Que gasta uma grande fatia do suor do povo em matar no cansaço os Ivos Pitarras da vida que ainda têm coragem e ânimo para denunciar o governo Lula como “o mais corrupto da história”.

O pior de tudo é que cansei. Nem tenho vontade de me solidarizar com esse jornalista que rompeu com seu passado petista e agora recebe tijoladas dos seus ex-parceiros. Como os demais brasileiros, aceito a corrupção como quem aceita o tempo. Até comento: “Já são 9 horas e nenhum grande escândalo irrompeu hoje?”

Não quero me comparar a Rui Barbosa, mas não posso deixar de pensar no que ele falou há quase cem anos: “De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto.” O homem comum aceita a corrupção e não a combate mais. Pensa que, de certa forma, perderá até as migalhas dos corruptos se ele os combater. A corrupção cria um exército de dependentes que precisam votar naqueles que sustentam o esquema.

Por isso, quando me desinteresso por denúncias claras, quando deixo de participar no combate à corrupção, também eu acabo me tornando conivente. Acho que não estou fazendo o meu papel. Em vão tento me desculpar dizendo que não recebi, que não usufruí de nada disso. Lá no fundo, uma voz me diz: Você calou!

A Marcha Contra a Corrupção que ainda está tímida, talvez numa próxima vez tire das casas os acomodados que acham que não devem se envolver. Se ninguém se envolver, não admiraria de ver os corruptos citados acima fizerem parte desta marcha. Uma das características deles é a cara de pau.

Luiz Lauschner
Enviado por Luiz Lauschner em 28/04/2012
Reeditado em 28/04/2012
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