Aprender e ensinar...de que forma?

Aprender e ensinar... De que forma?

No meu tempo de criança, entrávamos na escola aos sete anos, na 1ªsérie do curso primário. Não existia pré-escola. Coordenação motora, lateralidade, cálculo,espaço e tempo aprendíamos nas experiências da vida. Brincando. Interagindo. Sete casinhas, cinco pedrinhas, cama-de-gato, amarelinha...Tantos divertimentos! Subindo em árvores, nadando no rio, fazendo cozinhado, pulando corda, jogando gude aprendíamos conhecimentos de direita/esquerda, desenvolvíamos a motricidade fina e ampla. Regras matemáticas eram aprendidas jogando tampinhas, disputando figurinhas, par ou ímpar, brincando de palitinhos. Nosso raciocínio era também trabalhado resolvendo adivinhações, brincando de forca, do jogo da velha...Nossa oralidade era desenvolvida ouvindo e contando estorinhas, cantando cantigas de roda. Estávamos prontos. O primeiro livro: A CARTILHA DO ABC. Um livro pequenino e fininho. Não existia caderno de 'arame'. As vogais, as consoantes, o alfabeto maiúsculo e minúsculo, as sílabas, as palavras, as frases, o texto.A professora 'tomava' a lição com um pedaço de papel onde abria um círculo, deixando descoberto apenas a letra. Perguntava: - que letra é esta? Em seqüência e depois salteado, conhecíamos todas as letras. As sílabas aprendíamos assim: 'beabá', 'beebe', 'biibi', 'beobo',

'beubu'...Soletrando e juntando as consoantes com as vogais, íamos de sílaba em sílaba, de palavra em palavra, até lermos 'corrido'. Agora tínhamos 'conhecimentos prévios' e líamos as palavras. Escola tradicional, decoreba, dizem hoje.

Um salto no tempo...A escola questionada. Entre leis, decretos, pareceres, resoluções, passamos pelas 4024/61, 7692/71,7044/82 e chegamos à 9394/96.Teorias e correntes discutidas e incorporadas com verdades irrefutáveis. Do momento. Técnicas e métodos de ensino. Didática repensada. Skiner, Gagné, Ausubel...princípios de aprendizagem. Entre 'imputs' e 'outputs', métodos: eclético, fonético, natural, construtista. Novas tendências, novos pensadores, novas idéias. Piaget, Wygotsky, Freinet, Emília Ferreiro, Montessori, Paulo Freire...Teorias. Pedagogias. Tendências. Liberal e Progressista. A construção do conhecimento. Construtivismo. Sócioconstrutivismo.Tudo novo. Válido. Os tempos são outros, as crianças são outras, pensam diferente, aprender a fazer/fazendo.Legal! Competências, habilidades, saberes. Conteúdos factuais, conceituais, atitudinais, procedimentais. Avaliação diagnóstica, formativa, somativa. Perrenoud, Zabala, Morin...Escreveram, é lei. Ivani Fazenda, Lukesi, Hoffman...Por que, como, para que e para quem avaliar? Mas, 'QUEM EDUCA QUEM'?

As escolas já não são no fundo do quintal.A aprendizagem

já não se constrói brincando nas ruas de cascalho. A oralidade, a leitura e a escrita já não se desenvolvem a partir do ouvir e contar estorinhas, do cantar músicas infantis. O raciocínio lógico não vem mais do par ou ímpar. As escolas são prédios enormes, bonitos. O livro é colorido, cheio de imagens. O caderno é em espiral para quantas 'matérias' se queira. A tabuada é a calculadora. A pesquisa é a internet. A escrita é o computador. A leitura é a televisão, o vídeo, o DVD. A princípio, o mimeógrafo a álcool superou o papel pautado. a máquina de escrever foi substituída pelo computador. O quadro branco destituiu o quadro 'negro'. o pilot passou para trás o giz. Avanço extraordinário! Tudo para o ALUNO...Tem CD PLAYER, mas não aprendeu a brincar de quatro cantinhos, cavalinho de pau, coelhinho na toca. Tem KARAOKÊ, mas não cantou Terezinha de Jesus, O Cravo e a Rosa, A linda Rosa Juvenil. Tem brinquedos motorizados, mas não sabe pular corda, subir em árvores. Tem calculadora, mas não sabe as quatro operações. Tem televisão, mas não sabe ler.Tem computador, mas não sabe escrever. Tem micro systen: lambada, pagode, axé. 'Tou nem aí'! E as cirandinhas? Criança já não vive como criança. As escolas...

Novas concepções, novas formas de avaliar, novos métodos, nova lei. Tudo pra o PROFESSOR. Se chamado assim, dizem que não é EDUCADOR. E sendo este, não pode ser MESTRE. Professor sempre foi professor e era respeitado, valorizado. Terminologias ao mudar os tempos, os pensadores da educação, os idealizadores das novas propostas. Ensinar, só por projetos.Interdisciplinaridade. Encontros e desencontros. Os curso de formação trouxeram idéias importadas. longe do nosso contexto. Teoria, uma. Prática, outra. Univesidades que parecem apenas um 'universo' de blocos e cimento. Paredes. Colocaram o professor na encruzilhada, sem saber para onde ir. O que sabia fazer bem, havia caído por terra. Abandone-se tudo. isso é arcaico, ultrapassado. Blá, blá, blá...os cursos de magistério não devem continuar é a ordem da nova Lei. Professor tem que ter nível superior. Corre! 2007 vem aì. Que nada! Chegou 2004 e tudo mudou. Novo governo, novo ministro. Novas 'velhas' ideias. Volta 'tudo como dantes no quartel de Abrantes'.

Agora a idéia é fazer bem aquilo que se sabe, aproveitando as experiências do outro, apendendo a aprender. Imaginem! Volta-se a defender o TRADICIONAL. Construtivismo discutido. Quem entende? No meu tempo de senhora cinquentona, só me resta questionar: onde ficam o aluno e o professor em meio a tudo isto? Aprender e ensinar. Perguntar-me-iam: não seria ensinar e aprender? Respondo com uma questão:QUEM ENSINA O QUE NÃO APRENDEU?

Maria Luiza D Errico Nieto
Enviado por Maria Luiza D Errico Nieto em 28/02/2007
Reeditado em 19/07/2023
Código do texto: T397065
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