FUNCIONAMENTO PÚBLICO

Toda vez que sou forçado a procurar um órgão público me sinto patrocinador involuntário do desperdício. Não sei o que faz com que algumas pessoas que alcançam empregos públicos se desligam da realidade dos demais mortais. Os mesmos funcionários que exigem celeridade dos serviços bancários são incapazes de respeitar o tempo de quem está, ou deveria estar sendo atendido. Muita coisa melhorou desde o tempo em que, como Office boy, tinha de andar pelo INPS em busca de uma certidão e era obrigado a ver um paletó na cadeira que dizia que o ocupante de carne e osso voltaria em algum momento. Esse “algum momento”, às vezes, levava dias. Já naquela época as repartições eram cheias de propagandas oficiais, verdadeiras ou não. Ainda no início dos anos setenta, havia um grande cartaz que dizia: “Até 1964 o Brasil era o País do Futuro, agora este futuro chegou!”

De lá para cá as siglas da Previdência Social mudaram algumas vezes e o atendimento se tornou informatizado. Contudo, as repartições continuam com estruturas paquidérmicas. Não sei quando começou a terceirização da limpeza desses locais, nem quando a segurança foi privatizada. Também não entendo porque uma repartição de menos de quinhentos metros quadrados precisa, em pleno horário de funcionamento, dois ou mais funcionários para fazer a limpeza do chão e dos banheiros. Também não consigo entender o porquê do governo do povo precisar de dois guardas para garantir a segurança dos funcionários contra as agressões deste povo no seu espaço de trabalho.

Os idosos e deficientes – que é a maioria que procura atendimento nos postos do INSS – se vê constrangida em ter de levantar das cadeiras de espera (sempre há muito tempo de espera) para permitir que seja passado o pano úmido no piso várias vezes durante o expediente. Os encarregados da limpeza, que são trabalhadores de empresas terceirizadas e privadas, querem mostrar serviço, mesmo que seja varrendo os pelinhos que as vassouras deixam no chão nas varreduras anteriores.

Contudo, mais uma coisa chama a atenção de quem fica horas esperando atendimento: o bebedouro não tem copos, como costuma acontecer em todos os escritórios de empresas privadas. Quem quiser beber água – e todos querem, no calor equatorial – precisa ir ao balcão solicitar o copo descartável à funcionária. Com isso, parece haver uma grande preocupação com o desperdício de copos. A simbologia não podia ser mais eloquente: Enquanto se joga dinheiro do contribuinte pelo ralo contratando funcionários sem função, dosa-se os benefícios em copos de 200 ml que tem um custo insignificante.

Durante o tempo que permaneci na repartição tentei me distrair vendo alguma coisa num aparelho de televisão sem som e com a imagem distorcida, como a maioria das coisas que o governo apresenta. Peço desculpas aos leitores por tomar seu tempo com minhas divagações. Aconselho àqueles que vão a uma repartição que levem um livro – não revista nem jornal, que se tornam pequenos pelo tempo de espera. Assim, ocupados com a imaginação viajando pela ficção, não vão sofrer com as reflexões de quem passou a vida economizando para alcançar um benefício no fim dela.