Quando os pais se separam...
Muito se fala dos filhos de pais separados.
A discriminação existe ainda, maior ou menor, dependendo da região e cultura local.
Qualquer atitude fora do padrão é motivo para que o jovem seja naturalmente estigmatizado: é filho de pais separados.
Vejo as coisas de outra forma.
A separação quando acontece apenas entre os pais, e de forma madura, é benéfica para os filhos, uma vez que acabam com tensões, angústias, medos.
Não podemos subestimar a capacidade de perceber a situação vivenciada pelas crianças.
Elas sabem que as coisas não vão bem e atemorizam-se com a possibilidade da separação dos pais, exatamente pela insegurança provocada pela situação.
Não adianta camuflar, simular uma felicidade inexistente.
Vivi separações.
Sei das dificuldades, das angústias, dos medos.
O mais importante é ser espontâneo e autêntico com as crianças.
Simular, fingir ou mentir é o pior que pode acontecer.
Quase sempre os casais separam-se num clima de desafeto e discussões.
As crianças ocupam um lugar de disputa entre eles.
Comparam e medem afeto, usam de chantagens.
O grande problema é que os pais comportam-se como adultos irresponsáveis.
Pai e mãe separam-se, filhos não.
Filhos serão filhos, sempre e isso deve ficar claro e principalmente sentido pelas crianças.
O jogo afetivo, as ameaças de perda do amor, segurança, inclusive a financeira, é que transformam a separação num problema.
Tentei colocar-me dessa forma para minha filha ao separar-me de seu pai.
Não foi fácil, pois tinha uma vontade enorme de botar para fora minhas raivas todas, meus sentimentos de desafeto e incompreensão.
Briguei com o mundo, mas preservei minha filha das chantagens e jogos afetivos.
Quando adulta, conversando, ouvi dela que nossa separação foi algo muito construtivo na sua vida.
Que foi uma criança e uma jovem tranqüila, segura e feliz.
Acrescentou ainda que não entendesse como pudemos nos casar, tantas as diferenças entre nós.
Viver na hipocrisia, no meu ponto de vista é infinitamente pior para as crianças do que assumir a responsabilidade de um casamento que não deu certo.
Ainda acredito na educação que se constrói na verdade, exemplo, empatia e amor.
Pais juntos ou separados podem educar crianças capazes de mudar e tornar nossa sociedade mais humana e justa.