QUEM FOI CHICO MENDES?

José Lisboa Mendes Moreira

“Eu sou eu e a minha circunstância”

Ortega y Gasset

Caía a noite em Xapuri. Era o dia 22 de dezembro de 1988. Estava calor. Chico Mendes jogava dominó com os policiais que o protegiam. Por volta de 18h 30m, ele se levantou da mesa, pegou uma toalha e disse que ia tomar banho. Como o banheiro ficava no fundo do quintal, ele abriu a porta da cozinha, notou que já estava escuro e pediu uma lanterna. Ouviu-se um tiro.Chico rodou e levou a mão ao peito. Chegou a dar entrada no hospital. Mas já estava morto. Não foi o primeiro militante político a morrer desse modo, mas nunca o assassinato de uma pessoa tão humilde, vivendo em lugar tão remoto, teve tamanha repercussão em nível internacional.

Afinal, quem foi Chico Mendes? Para responder a essa pergunta, relacionamos uma série de datas significativas na história deste homem.

1925- O avô de Chico Mendes, com a mulher e os filhos, entre eles o pai de Chico, Francisco Alves Mendes, então com doze anos, deixa o seu Estado, o Ceará, para ir viver no Acre,

15/12/1944 - Dia em que Chico nasceu, no seringal Porto Rico, próximo de Xapuri.

1962- Conhece Euclides Távora, cearense como seu pai, ex-tenente do Exército, que tomou parte na revolta comunista de 1935, esteve preso na Colônia Penal de Fernando de Noronha, de onde fugiu. Chico tinha 18 anos e era analfabeto. Foi Euclides quem o alfabetizou e lhe deu formação política.

1969- Casa-se com Maria Eunice Feitosa, mãe de sua primeira filha, Ângela.

1971- Separa-se de Maria Eunice, abandona o seringal e passa a lecionar para adultos, numa escola do governo, em Xapuri.

1973- Dom Moacyr Grechi, fundador e ex-presidente da Comissão Pastoral da Terra, é sagrado bispo de Rio Branco. Teve grande influência na trajetória de Chico. A Igreja Católica cultivou a liderança e um combativo sentido de objetividade entre os isolados moradores da floresta.

1974- João Maia, representante da Confederação dos Trabalhadores na Agricultura ( CONTAG), chega ao Acre para estimular a criação de sindicatos. Em 1975, relacionou-se com Chico Mendes e o ajudou a fundar o sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brasiléia.

1976-O sindicalista Wilson Pinheiro, que seria assassinado em 1980, organiza grupos de 300 ou mais pessoas para resistirem, sem armas de fogo, ao desmatamento promovido por pecuaristas.Essa resistência, nem sempre vitoriosa, mas sempre incômoda para os derrubadores, recebeu o nome de “ empate” (derivado de empatar, embaraçar).Após o assassinato de Pinheiro, Chico assumiu a liderança dos “ empates”.

1977- Chico é eleito vereador em Xapuri.

1978- Conhece Mary Allegretti, antropóloga paranaense, que contribuiu para projetá-lo mundialmente e lhe conseguiu algumas bolsas junto a entidades internacionais.

1983- Casa-se com Ilzamar Gadelha Bezerra, que conhecia desde menina e que fora alfabetizada por ele.Tiveram dois filhos: Elenira e Sandino.

1986- Torna-se amigo do cineasta inglês Adrian Cowel que, através de inúmeros documentários, lhe deu uma audiência internacional. Nesse mesmo ano, conheceu o agrônomo e ecologista José Lutzenberger, que o auxiliou com algumas doações.

1987- Chico consegue que uma comissão da ONU visite o Acre para observar a luta dos seringueiros contra o desmatamento.Em março desse mesmo ano, vai a Miami participar de uma reunião do Banco Inter-Americano de Desenvolvimento (BID), onde se manifestou contra o patrocínio de projetos não ecológicos. Em seguida, vai a Washington e expõe numa Comissão do Senado dos Estados Unidos o seu pensamento sobre as Reservas Extrativistas.

Principal bandeira de Chico Mendes, as Reservas Extrativistas são áreas pertencentes à União com usufruto dos seringueiros e outros trabalhadores da floresta que se organizam em cooperativas e associações, não havendo títulos de propriedade.As Reservas dão sustento aos milhares de famílias que trabalham nelas, quer sejam seringueiros, castanheiros, pescadores, trabalhadores do babaçu, da juta, do cacau, do açaí e de tantas outras riquezas que podem ser exploradas sem destruir a natureza.

Deve ser ressaltado que essas Reservas Extrativistas foram idealizadas para dar sustentação aos povos que já vivem na floresta, e jamais como uma política de ocupação do solo.

Chico Mendes tinha consciência de que a defesa da floresta não significava luta pela terra, mas, pela preservação dos recursos naturais. Na Amazônia, não é a terra que precisa ser dividida; a floresta é que não pode ser privatizada.

José Lisboa Mendes Moreira
Enviado por José Lisboa Mendes Moreira em 06/04/2007
Reeditado em 10/04/2007
Código do texto: T439925