FRANCISCO, UM PAPA NÃO MUITO CATÓLICO

Observando a figura do simpático velhinho que distribuía sorrisos, bênçãos e acenos a todo o povo brasileiro, muitos esqueceram que ali estava o chefe da maior organização religiosa do mundo – e também o chefe de Estado de um dos mais ricos países do mundo, o Vaticano. A figura do Papa garante a unicidade à religião cristã que, embora não represente a maioria da população da Terra, por sua centralização torna-se a mais poderosa. A empolgação ao ouvir dele “tornem-se revolucionários” e “o jovem que não contesta não me agrada”, pode esconder a própria condição de revolucionário do Sumo Pontífice que contesta valores arraigados como qualquer jovem contesta a vida.

A empolgação ao ouvir dele “Tornem-se Revolucionários” e “o jovem que não contesta não me agrada” pode esconder a própria condição de revolucionário do Sumo Pontífice que contesta valores arraigados como qualquer jovem contesta a vida. Ao afirmar que “todos os homens são filhos de Deus” mudou o conceito da própria Igreja Católica que afirmava – assim como as demais religiões cristãs ainda afirmam – que o homem é criatura e atinge a condição de filho pelo batismo e a aceitação de Jesus. Ao afirmar que os “ateus também podem ser salvos”, sem entrar no mérito do que seja salvação, ele contesta os próprios sacramentos do Batismo e da Crisma. Até mesmo o sacramento do Matrimônio deixa de ser imprescindível ao se dispor a batizar filhos de mães solteiras.

A separação do simbolismo do básico e o intelectual do espiritual continuam sendo grandes temas de debates, a maioria deles em foro íntimo, para todos os que pensam e ensinam religião. A separação do Jesus físico e do Cristo imaterial é o cerne dessa questão que para o leigo não faz diferença nenhuma. O culto ao sofrimento de Jesus, felizmente, está cedendo espaço ao estudo dos ensinamentos cristãos que, segundo os fundamentalistas, vem sendo desvirtuados pela Igreja Católica que estaria dando muito enfoque à tradição criada por ela mesma. Em outras palavras: se para alguns a chamada salvação está mais no sangue dado por Jesus, para outros está nas palavras pregadas por ele.

Questionamentos religiosos à parte, este Pontífice está tentando aparar arestas e aproximar pessoas de credos diferentes. Pessoas estas que dificilmente farão parte do séquito católico, mas mesmo assim deixarão de ser consideradas como “perdidas” por estes. É uma grande revolução.

Em sua história a Igreja promoveu guerras, estimulou conquistas, entre as quais a invasão da América pelos europeus, as cruzadas e outras, com a máxima de que “fora da Igreja não há salvação”. Portanto, seria necessário trazer todas as almas ao seu seio e quem não concordasse veria seu corpo separado dela à espada, sendo antes despojado de seus bens materiais. Nesse cenário, as palavras do Papa Francisco vêm em outra direção. Para a miríade de denominações cristãs que existem no mundo - que tem seu próprio “papa” mesmo que seja uma igreja de um único templo alugado -, as pregações do líder católico não condizem com os Evangelhos. Por isso, é esperado que Francisco encontre forte oposição, principalmente a interna, até que as “alterações” se tornem consenso entre o clero.

Estamos assistindo a uma mudança histórica, onde o Papa se torna menos católico para ser mais cristão; ele se desliga da rigidez dos dogmas para deixar a espiritualidade fluir. Ao agir assim, aproxima-se muito do pensamento de religiões não cristãs. Deixa de discriminar àqueles que tem uma maneira diferente de reverenciar a Deus, que, no dizer da Igreja, é um só. Contudo, se o povo apenas vir o Papa como um ídolo, a humanidade corre o risco de regredir para a valorização da pessoa e não da essência - como hoje acontece com a valorização do sofrimento de Jesus em detrimento de os ensinamentos deixados por ele.