DESORDENS
DESORDENS
O que era aquele sentimento?Uma pressão que apertava o peito, um medo de ficar, a impossibilidade de partir. Só meio sorriso, só meia alegria, uma paixão infinita exacerbando a etimologia latina passion- passividade, sofrimento muito próxima da significação grega pathos- patologia. Um sentimento fundindo: de um lado um homem dependente, amando enlouquecidamente uma mulher que ele queria diferente. Uma mulher que ele queria fraca, extasiada de uma paixão sem restrições por ele. Do outro lado estava uma mulher com a metodologia falida do “amor vai te mudar”, uma mulher que ganhava tempo e perdia espaço dentro da constância sofrida de manter-se de pé.
Almas em chamas somando o desespero e o desacerto com o apego presunçoso de construir-se modelando um ao outro. Construir-se através da fé de que o amor supera tudo, renova-se, não cansa.
Cansou fez uma cova na alma, e esperou a vida passar, mas o silêncio da entrega incondicional se acordou de repente aos gritos com a surpresa da perda. Porque a espera tem expectativa, tem esperança, mas o vazio da perda extingue, interrompe, desfibra o ânimo e faz memorar. Aquele sentimento era um amor imenso, desmedido, em franca desordem, porém incontestável, e não se extinguiu no vazio da perda. Nada anulou as belas lembranças Relações intensas gritam entre os elos adormecidos acordam sonhos e pesadelos interrompidos e ensinam. Ensinam a transformar em coragem os pesadelos que assolam nossa existência, revisando falhas em aberto para que sirvam de exemplo. Ensinam a contar os belos sonhos na ordem correta exercendo nosso direito de aprender sempre.
JOYCE RABASSA