TEM VAGA PRA CACHORRO?

A divulgação de que o brasileiro gasta com o cuidado com seus bichinhos de estimação, leia-se cães e gatos, quase 15 bilhões de dólares por ano deixou todo mundo estarrecido. Este número representa o dobro de toda a economia do Haiti e quase 1/3 da economia uruguaia que, diga-se de passagem, tem um IDH maior que o Brasil. O estarrecimento vem do fato que somos um país que parece ter mais preocupação com animais abandonados que com crianças na mesma situação.

Para adotar um gato ou cachorro recolhido por alguma Ong voltada ao setor, o destinatário recebe um termo de adoção onde se compromete a tratar o animal como “um membro da família” e também assume o compromisso de castrá-lo em um determinado tempo, não importando se é macho ou fêmea. Exageros à parte, os serviços que algumas prefeituras disponibilizam para esterilizar animais gratuitamente merece louvor. Aliás, há muitos trabalhos realizados por médicos veterinários que não são cobrados em separado. Talvez por isso que do total gasto em Pet Shops apenas 6% se destinam aos profissionais. Dentro do universo de 15 bilhões isso representa menos de um bilhão.

Vale constatar que outros animais criados para o abate e, por isso destinados ao consumo humano, têm parte de suas carnes destinadas ao alimento animal. Por isso, quando se adquire alimento para cães numa casa especializada, não raro se paga o mesmo valor que custa um quilo de comida para humanos em restaurante. Os donos de animais que fazem as contas sobre o aumento do custo de vida muitas vezes não fazem esta comparação. Contudo, o gasto com a criação de animais não está na conta do consumo acima citado.

Aplicar maus tratos a animais tornou-se crime, assim como o abandono destes. O sadismo sempre é condenável seja no trato com animais ou pessoas. Contudo, não podemos chegar ao extremo de considerar um animal doméstico como “membro da família” que isso também é doentio como o sadismo o é na outro extremo. Deveria haver algum imposto extra para aqueles que gastam milhares de reais na manutenção da vida de um animal doméstico em estado terminal. Não raramente ouvimos alguém dizer: “Gastei mais de três mil reais com meu cachorro velho, mas ele não resistiu”. Estas mesmas pessoas muitas vezes moram em casas protegidas contra mendigos, contribuem de maneira pífia para instituições filantrópicas e nem querem ouvir falar do serviço público de sacrifício de animais.

É bom lembrar que a indústria de alimentos para animais domésticos é limitada a poucas empresas que dividem essa grande fatia entre si. Campanhas para a manutenção, tratamento e exibição de animais, quando não promovidas por estas indústrias contam com seu patrocínio. Contudo, nem tudo é comida nesse reino. Carrinhos de rodas e outros confortos para animais mutilados também estão vendendo bem.

Que há de positivo em tudo isso? Um cachorro ajuda a proteger a casa ou ao menos avisar quando acontece algo estranho. O gato elimina pequenos seres indesejados com ratos, baratas, aranhas e outros. Também é um sinal de bem estar da economia gastar tanto com supérfluos. Nos anos 60 do século passado havia uma manchete no Der Spiegel sobre o progresso da economia alemã: “Em 1945 cozinhávamos coturnos para fazer sopa. Hoje, gastamos 20 milhões de marcos em cosméticos”.

Ainda temos um longo compromisso a cumprir com os humanos antes de darmos tratamento igualitário aos “membros da família” de quatro patas.