LEIA E REFLITA

Eu já estava pronta pra disparar... ou melhor, eu já estava pronta pra escrever a esse respeito. E, quando li dois artigos (uma pesquisa na Folha Online e uma “denúncia”), meus dedos começaram a percorrer o teclado muito mais devagar do que vinham as palavras em minha mente.

Tentei parar, respirar fundo, organizar as idéias, mas não deu... Tamanha era minha ansiedade (não confunda com nervosismo)! O que eu tinha pra colocar no papel de repente tornou-se uma urgência agoniante! Como se eu tivesse acabado de descobrir a pólvora... não! Desculpem!... a roda... e precisasse compartilhar com todos minha descoberta!

Eu sei que para alguns pode até parecer exagero; parecer que eu estou pensando que é o fim do mundo (ai ai, essa maneira negativa de abordar as coisas pega mesmo!), mas outros, acredito, irão compartilhar e entender meus sentimentos.

Deixei de ver TV, principalmente os noticiários, e lhes garanto uma coisa: Minha vida mudou! E pra melhor! Não ando mais com os nervos à flor da pele com medo de ser atingida por bala perdida (mesmo não saindo de dentro do meu apartamento) ou de assaltos, roubos, e outras coisas do tipo. Passei a dormir melhor, mesmo que minha filha tivesse ido a uma festa e às duas da manhã ainda não tivesse voltado.

Não estou alienada! Não ando por aí exibindo jóias por todo corpo, ou mesmo com a carteira cheia de notas de cem reais (mesmo se as tivesse!) e com total despreocupação... Não! Mas também não ando com colete à prova de balas (até porque também não tenho) e nem deixei de sair de casa por que vivemos num mundo cão. Pensando que até meu vizinho pode ser um bandido, um assassino ou quem sabe um ter-ro-risssss-ta! É! Terrorista! A pesquisa reportada na Folha Online informa que as crianças brasileiras estão entre as mais preocupadas do mundo com a segurança! Têm mais medo de terrorismo do que as crianças dos Estados Unidos (isso me trouxe uma dúvida que vou pesquisar: filhos de assassinos têm medo de assassinos? Filhos de ladrões têm medo de ladrões?...). Bem acho melhor citar então que as brasileiras (87% das entrevistadas) ficaram atrás apenas das crianças da Indonésia (93%).

O Brasil nunca sofreu atentado que possa ser qualificado como terrorismo. Pelo menos físico, não!

Ultimamente, e tenho certeza de que não fui só eu que senti a pressão, as emissoras de TV (principalmente aquela que detém maior audiência) não querem apenas que o público tome conhecimento de um fato. Elas exploram uma matéria trágica de maneira sufocante! Até que não fique um ser vivo nesse imenso país sem saber que "aquilo" aconteceu.

Nos salões de beleza (toda mulher sabe - antro de fofocas) não existem mais comentários sobre a mulher do fulano, o marido de cicrana, o capítulo da novela... Só se ouve: “Você viu que coisa horrível?...” E lá vem um amontoado de tragédias. Nas fofocas de hoje em dia, um evento horroroso lembra outro pior ainda.

Isso deve ser natural! E isso me preocupa. O ciclo.

Quando eu era criança, lembro de ouvir comentário do tipo: "se torcer aquele jornal, sai sangue". Óbvio que, além de não entender porquê, eu não tinha acesso para obter tal entendimento - e também não foi algo que aguçou minha curiosidade infantil. Com o tempo, naturalmente, eu soube do que se tratava e isso não me levou a comprar nenhum exemplar!

Hoje, quanto mais tragédia é transmitida, maior é a audiência!

Eu desconfio de que haja algo errado com a nossa sociedade.

Na “denúncia”, à qual me referi, esse trecho que me chamou muita atenção:

“As empresas de comunicação não são como as indústrias de automóvel, ferro, carvão ou petróleo. Além de produzirem bens tangíveis, que podem ser comercializados (novelas, filmes, esportes, carnaval, etc.), esses artigos possuem um capital subjetivo poderosíssimo. Tão poderoso que conferem a seus detentores a responsabilidade por transmitir formas de sentir, pensar e viver a cada indivíduo e, conseqüentemente, lhes garante o poder de interferir em toda a sociedade. Assim, tanto é possível legitimar editorialmente genocídios quanto erradicar o analfabetismo. Só depende do uso que se faz dos meios de comunicação e, em especial, da televisão.”.

Porque será que as imagens deprimentes, tristes, chocantes, violentas são repetidas por dias (mais de três vezes ao dia, numa mesma emissora), semanas e às vezes até por meses? Gostaria de ter uma resposta. Isso que acabei de escrever me trouxe à mente as palavras: lavagem cerebral. Mas... Fiquei na mesma. Com que intuito bombardeiam nossas mentes colocando tanto sensacionalismo nas notícias que, por si sós, já são bastante ruins?

Penso, com muita preocupação, no que será das crianças de hoje que mal nascem e já morrem de medo de viver!

Eu acharia melhor que deixassem a “violência” que cada um carrega dentro de si quieta lá no lugarzinho dela! Insuflá-la pra quê?

Anne Alencar

27/04/2007

Dados numéricos retirados da pesquisa mostrada na Folha Online - matéria publicada em 20/11/2006. http://www1.folha.uol.com.br/folha/equilibrio/noticias/ult263u4226.shtml

Trecho retirado da matéria - Jornalistas sofrem perseguições na TV Globo - publicada pelos sites Fazendo Média em 12/04/2007, Vermelho em 15/04/2007 e outros.

http://www.fazendomedia.com/diaadia/nota120407.htm

http://www.vermelho.org.br/base.asp?texto=16410

Anne Alencar
Enviado por Anne Alencar em 27/04/2007
Reeditado em 01/11/2009
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