Stand-up comedy or tragedy

Cada vez mais as apresentações do tipo “stand-up comedy” ganham espaço nas mídias televisivas e virtuais. Muitos chistes (estado psíquico de alegria) são arrancados dos tele-espectadores, seguidores com todo o tipo de pilheia, entretanto o sarcasmo e a ironia bem construídos – muitas vezes – cedem lugar a um tipo de piada que se torna ofensa pessoal. Por que razão milhares de pessoas aplaudem este tipo de ofensa?

O termo “stand-up”, que significa “em pé” numa tradução literal, tem sido usado para conceituar apresentações em que não há artifícios e nem a composição de uma personagem, isto é, de “cara limpa”. O sujeito sobe num palco ou liga sua câmera na “Web” e começa a falar sobre coisas do cotidiano, política, economia e não há nada de errado nisso! Algumas piadas ou relatos, pois - quando bem elaborados – estimulam muito o senso crítico. Ocorre, todavia, que as ofensas pessoais têm sido cada vez mais comuns, até mesmo ofensas intra-uterinas, revelando uma pobreza intelectual ovacionada por milhares de pessoas. Ser muito alto, baixo, gordo, magro, estrábico se tornou o pior dos pecados. O que há de edificante em chamar um(a) governante de feio(a), careca, narigudo(a), dentuço(a), por exemplo? Exceto o espelho pessoal de cada, quem tem autorização para fazê-lo??

Neste sentido, é preciso entender que há uma imensurável diferença entre fazer piada sobre ações governamentais e fazê-la sobre o indivíduo. O incrível é que tem gente ganhando muito dinheiro para fazer graça do tipo que era feita no jardim de infância. Lembro-me que nesta época eu tinha uma colega que tinha os dentes escurecidos por causa do uso de antibióticos e todos os alunos do jardim a chamavam de “Dente Podre”. Quando contei este fato para minha mãe ela me perguntou:

-Por que tu também chama ela assim? – Respondi:

-Porque todo mundo chama! – Então minha mãe disse:

-Tu não é todo mundo! Deve tratá-la com gentileza. E se fosse o contrário, gostaria que debochassem de ti?

Já no próprio jardim de infância eu superara este tipo de comportamento, pois aprendera o significado prático da palavra empatia. Os aplausos da grande massa, porém, continuam a outorgar justamente este tipo infantil de comportamento. Uns em pânico vão dizer que agora é tarde; outros, que ainda dá tempo de o respeito e a tolerância serem ovacionados pela maioria (ovacionar não é tocar ovo, tá). Quiçá este “stand-up tragedy” com rótulo de “comedy” ceda espaço para um tipo de humor que não tenha como propósito único o ataque às peculiaridades estéticas individuais. Custe o que custar!