A relação musical entre o fim e o sorriso do instrumentista

Estava lá eu ouvindo e contemplando com prazer a bela música que estava sendo executada no piano. Então, previamente de repente, a expressão corporal da instrumentista e a própria significação interpretativa musical me avisou (e ao público) que a música estava para terminar. Não era mentira de ninguém (nem da expressão da interprete e nem da música): a composição foi finalizada. Porém, nenhum aplauso fora retirado das mãos ansiosas do público até que a instrumentista, como que numa comunicação inconscientemente codificada, soltasse o sorriso de canto (que chamo aqui de "o sorriso tipo Monalisa, mas menos misterioso") olhando para a platéia. Aí sim, todos logo aplaudiram com ótimo fôlego, completando o ritual comum à uma apresentação artística. Afinal, ela tinha dado seu sorriso "terminei a música".

Essa é uma relação que toda apresentação musical contém, sendo, então, indispensável. O que seria o sorriso? Qual a representação do tal?

Talvez, seja o modo do músico, naquele momento, expressar sua satisfação em estar apresentando, seja lá qual for a composição, para pessoas que estão concentradas unicamente em sua execução e a maneira que sua interpretação extrai o som. Ou, quem sabe para alguns, seja uma forma de demonstrar seu alívio ao terminar a música de maneira satisfatória ou então ter errado menos do que esperava, sentindo-se mais feliz porque toda agonia pré-apresentação tenha acabado... aí depende do músico! É claro que devem haver outros motivos, mas ainda estou em andamento com minhas "pesquisas" observadoras em relação à isso.

É fato que, independente dessas causas, o sorriso após as composições é um sinal de comunicação naturalmente compreendido entre músico e público para indicar um verdadeiro fim da composição sem enganações por parte de um dos lados.

Pretendo, em alguma das minhas composições futuras, proibir o instrumentista de dar o tal sorriso após a música. Só temo que o público não bata palmas, aí não saberei se minha composição foi ruim e indigna de prestígio ou se a platéia estará esperando eternamente o sinal do verdadeiro fim.

Calor do cão
Enviado por Calor do cão em 22/05/2007
Reeditado em 23/05/2007
Código do texto: T497445