A ERA DE KEYNES

Até o advento da era moderna prevalecia em todas as sociedades humanas o princípio de limites da produção e do consumo.

O consumo dentro dos limites de necessidades humanas finitas e a produção limitada constituíam a meta da economia instituída nas sociedades pré-modernas. No século XIII, Santo Tomás de Aquino reiterava essa opinião. Seguindo Aristóteles, advertia contra a proliferação das necessidades socialmente induzidas, estabelecendo uma distinção entre riqueza natural e artificial.

Em nossa época, Lord Keynes referiu-se a necessidades absolutas e necessidades relativas. As primeiras são as limitadas necessidades biofísicas de alimento, abrigo, vestuário, transporte e de serviços elementares que ajudam o indivíduo a se manter como um organismo sadio. As necessidades da segunda classe são aquelas que satisfazem o desejo de superioridade e podem, na realidade, ser insaciáveis.

Em cima desta classe de necessidades é que se constituiu a sociedade de consumo. Foi nos E.U.A., no meado da década de 1950, que se estabeleceu a prevalência do consumo sobre a produção.Não mais produzir para atender o consumo: consumir para alavancar a produção.

De lá para cá, a mentalidade consumista, criada pela publicidade, se espalhou pelo mundo capitalista, aluiu o Muro de Berlim e ocasionou a derrocada da União Soviética.

As armas usadas pelo consumismo foram a obsolescência planejada e o obsoletismo psicológico. Planejar a obsolescência é encurtar deliberadamente a duração dos produtos fabricados. O obsoletismo psicológico consiste em criar insatisfação pelo que é velho e antiquado, embora em bom estado de uso.

Vinte e poucos anos antes, na crise econômica de 1929-33, não bastariam as decisões microeconômicas dos indivíduos e das empresas para superar a deficiência da demanda. Para incentivá-la, segundo Keynes, cabia ao Estado tomar medidas macroeconômicas: aumento na quantidade de moeda, repartição de rendas e investimentos públicos. Esses investimentos não deviam ser financiados por impostos suplementares para não estrangular a demanda privada. O Estado teria de financiar seus investimentos adicionais por via do “ gasto deficitário”, ou seja, contraindo empréstimos e intensificando o trabalho das prensas na Casa da Moeda.

Cabia ao governo não apenas criar dinheiro, como também assegurar a sua aplicação – sua velocidade – gastando-o. Foi o que Keynes propôs.

A crise foi superada mas, em paralelo com o aumento desenfreado da produção e do consumo, acelerou-se o esgotamento dos recursos naturais. Além disso, o “ gasto deficitário” não se restringiu a um impulso inicial para a dinâmica interna do mercado, como Keynes pretendia. Na verdade, foi uma porta aberta para a inflação e para um permanente desequilíbrio orçamentário.

John Kenneth Galbraith, que chegou a ser considerado o Príncipe Herdeiro do keinesianismo, escreveu o seguinte: “ Com o tempo ficou evidente que o progresso keynesiano pode ser muito desigual: muitos automóveis, escassez de moradias; muito cigarro, pouco auxílio à saúde. As grandes cidades em dificuldade. À medida que esses problemas foram se intrometendo, os anos tranqüilos foram chegando ao fim.A Era de Keynes durou algum tempo, mas não para sempre”.

José Lisboa Mendes Moreira
Enviado por José Lisboa Mendes Moreira em 27/05/2007
Reeditado em 27/05/2007
Código do texto: T503308