PRIMAVERA SILENCIOSA

José Lisboa Mendes Moreira

INDAGAÇÃO

Na morta biosfera

o fantasma do pássaro

inquiriu

ao fantasma da árvore

(que não lhe respondeu):

A Primavera já era

ou ainda não nasceu?

Carlos Drummond de Andrade – 1978

Durante a Segunda Guerra Mundial, as tropas americanas que lutavam contra os japoneses, nas ilhas do Pacífico, sofriam muito com a malária que é transmitida por mosquitos anofelinos. O dicloro-difenil-tricloroetano (DDT), conhecido há mais tempo, mas cujas qualidades inseticidas acabavam de ser descobertas, passou a ser produzido em grande escala e usado com total abandono. Aplicava-se de avião em paisagens inteiras, tratavam-se as pessoas com enxurradas de DDT. Depois da guerra, como aconteceu com outros agrotóxicos, a agricultura serviu para dar vazão aos enormes estoques sobrantes e para manter em funcionamento as grandes capacidades de produção que foram montadas.

É importante ressaltar que não foi a agricultura que suscitou os agrotóxicos: foi a indústria química que conseguiu impor seu paradigma na agricultura e dominou as escolas de agronomia.

Acontece que o DDT não matava só os mosquitos anofelinos. Onde ele era empregado em larga escala morriam outros insetos, ainda que benéficos como as abelhas, e até os pássaros.

Rachel Carson ( 1907-1964), bióloga marinha e escritora, impressionou-se com o desaparecimento dos pássaros que, na primavera, enchiam de alegria com seus cantos as imensas planícies verdes ao longo das margens do Mississipi.

Ela já havia publicado três livros notáveis: Sob o vento do mar (Under the Sea-Wind) (1941), O mar que nos cerca (The Sea Around Us) (1951) e A beira do mar (The Edge of the Sea) (1955). Porém, foi em 1962 que publicou seu livro mais importante: Primavera Silenciosa ( Silent Spring). Nesse livro, Carson condenava o uso indiscriminado de agrotóxicos ou pesticidas.

Sua obra mobilizou a juventude americana, principalmente as crianças das escolas públicas, que saíam às ruas com cartazes e gritando slogans, tais como: “ Queremos os nossos pássaros de volta”.

O livro de Carson tornou-se um best-sellerr imediato, vendendo meio milhão de cópias. Durante o ano de 1963, foi publicado em 15 países. Entretanto, foi fortemente atacado pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos e por várias companhias da indústria química, uma das quais tentou ostensivamente suspender sua publicação.

Apesar dos detratores, o Presidente Kennedy ficou impressionado o bastante para se referir ao trabalho de Carson, numa conferência de imprensa, em agosto de 1963, e para solicitar a seu consultor científico que estudasse a questão dos pesticidas. Um grupo especial do Comitê de Consultoria Científica da Presidência foi criado e produziu um relatório crítico em relação à indústria dos pesticidas e ao governo federal. O relatório, observou a revista Science, era “uma justificação bastante completa” de Silent Spring.

Ao corroborar a tese de Carson, o relatório mudou a natureza do debate. Ninguém mais podia negar que o problema existia.

Silent Spring tornou-se um marco da revolução ambientalista e do despertar da consciência ecológica.

José Lisboa Mendes Moreira
Enviado por José Lisboa Mendes Moreira em 30/05/2007
Reeditado em 26/06/2007
Código do texto: T507279