Esperança do profeta, do Gustavo, nossa

Homem de fé, Gustavo Jacques Dias Alvim, o advogado, jornalista, esportista, escritor e hoje o reitor da Universidade Metodista de Piracicaba é um homem que sempre soube apoiar as boas idéias, mas, principalmente, sabe a importância de não perdermos a esperança e de quão necessário, fundamental mesmo, é a educação e a observância de princípios éticos em nossas vidas.

Mas vocês poderiam, agora, questionar, o que eu, ex-morador de Piracicaba e morando em Curitiba há mais de um ano, teria que escrever no site de A Província, um artigo onde começo a tecer comentários elogiosos ao Gustavo Alvim? Ele, ex-vereador e ex-presidente da Câmara de Vereadores de Piracicaba, no que poderia contrapor à minha ácida crítica a políticos em artigo aqui recém publicado?

Quero dizer que nem todos os políticos são corruptos. Muitos são por nossa omissão e conivência. Aplaudimos discursos e consolidamos falcatruas com o olhar embevecido de quem fica apenas apegado ao dito em forma tão veemente nos palanques, nas tribunas. O atual modelo político brasileiro, no entanto, permite que jovens talentos políticos possam desviar-se do caminho da retidão moral e ética e caírem nas sendas da corrupção, do ganho fácil, do crime mesmo. Contra estas carreiras que levam à corrupção é que me oponho e me manifesto.Falo dos novos e antigos políticos, claro!

Não sou um homem de fé como o Gustavo e o Cecílio Elias Neto – um fervoroso metodista, o outro um católico que sofreu muito por sua fé e por suas decisões. Tive uma formação católica, mas não rígida, graças a Deus. Isto me permitiu conhecer a religião e acreditar apenas numa força superior que respeito e que, também, permite-me até questiona-la, algumas vezes.

Ao ler o texto do Gustavo Alvim, no entanto, pude sentir que ele abordou uma questão muito importante e que nós temos deixado de lado: a esperança. Quem tem fé tem esperança. E nós, ao apenas acreditarmos em homens falíveis e em idéias vazias, deixamos que a esperança fique menor, sem forças, enfraquecida pela nossa omissão.

O profeta Jeremias, o citado por Gustavo Alvim, disse querer trazer à memória o que podia lhe dar esperança. É o que farei aqui, também. Trazer à memória o que me mantém alerta, o que me faz acreditar no sonho de meus pais, na esperança de melhores cenários para meus filhos e, agora também, para minha primeira neta.

O que trago na memória também pode dar esperança e esta se vincula ao que pude aprender na infância, na juventude, nos relatos de meu pai, minha mãe, tias, tios, pessoas que puderam ter, em uma importante época de suas vidas, a mesma origem, numa mesma cidade, numa mesma escola.

Minha memória, agora, utiliza-se do que me foi contado. No final dos anos 20 e nos anos seguintes até final dos 40, minha família se estabeleceu na pequena cidade de Vera Cruz, próxima a Marília, não tão longe de Bauru. Lá, em 1932, meu pai, um menino de 12 anos acabara de chegar de sua Rio de Contas, na Bahia, buscando uma nova vida, já que, ao perder sua mãe, logo após ter nascido, fora criado por tias. Um de seus irmãos, dos mais velhos, se estabelecera em Vera Cruz como dono de uma pequena lavanderia. Foi este irmão que chamou meu pai para morar com ele no interior de São Paulo, mesmo numa época em que acontecia a Revolução Constitucionalista, a perdida pelos paulistas.

Naquela mesma época, meu avô materno chegava a Vera Cruz, com vários filhos, 9 mulheres e dois homens. Abre um pequeno hotel e faz com que seus filhos comecem a ir para a escola. Cidade de poucos recursos, Vera Cruz vivia do potencial das boas terras que possuía, das terras paulistas desbravadas no interior, e para onde muitas famílias de italianos e de japoneses, de mineiros, de paulistas de outras regiões para lá foram na busca de oportunidades de crescimento, de vida nova, de esperança.

Entre os novos paulistas, os baianos que chegavam, os italianos, os japoneses, uma família estava iniciando sua vida naquela mesma cidade. A família de um jovem médico e que era chamado apenas de Doutor Alvim. Sua esposa, uma jovem professora. E este casal teve filhos lá e foi nesta época, que nasceram Gustavo e sua irmã. O médico Dr.Alvim passou a atender ao meu pai, aos meus avós, tias, tios. Sua mãe, dona Nair Jacques Alvim, se não me falha a memória é este o nome dela, era a professora de minhas tias e de minha mãe. Anos depois, já em Piracicaba, descobri que minha mãe e meu pai haviam sido alunos da mãe do Gustavo Alvim em Vera Cruz.

Hoje, ao avivar minha memória, presto minha homenagem a todos eles. Foi no exemplo de profetas e na fé que eles tinham na orientação metodista, que puderam transmitir para futuras gerações a importância do que pode trazer esperança. Esperança hoje manifesta em mim, com saudade de meu pai, morto aos 49 anos, e que me legou como herança uma frase escrita num livro de arte, no começo dos anos 60: “Ao meu filho Rogério Otávio, para que lhe sirva de inspiração no futuro”. Meu pai tinha esperança de que me serviria de inspiração. E esta mesma esperança é meu ato de fé, minha e do Gustavo Alvim, na educação e no respeito à ética, à justiça e à liberdade.

(*) Rogério Viana, é jornalista em Curitiba.

Rogério Viana
Enviado por Rogério Viana em 19/09/2005
Código do texto: T51815