Gratidão: O Bom Sentir

O ressentimento, equivalente ao rancor, é, no dizer de Shakespeare, um copo de veneno que você toma com esperança de fazer mal ao seu inimigo.

No livro Deficiências e Propensões do Ser Humano, escreveu González Pecotche: o prisioneiro do rancor raramente memoriza os fatos e coisas que o beneficiaram dando-lhe satisfação e enchendo-o de alegria, mas recorda, em troca, com ânimo sombrio, de quantos lhe foram adversos.

A reflexão lembra um dizer antigo, ao afirmar serem os inimigos os provadores da têmpera de nosso espírito; se não os quer ter, melhor não haver nascido.

O inimigo, em geral, é um bom companheiro, que nos fará pensar na fórmula de nos libertarmos da tortura mental a qual nos submetemos ao recordar o ingrato, imobilizador dos sentimentos e endurecedor do coração, pois a ingratidão é um tóxico silencioso, eliminador das possibilidades de sermos felizes e livrarmo-nos das recordações sombrias, que lesam o coração; é uma das doenças das quais os seres humanos de hoje padecem. Seus frutos são a depressão e o vazio.

Esquece-se, com muita facilidade, as coisas boas que vão acontecendo: pequenos sucessos, singelas alegrias, emoções que colorem os dias pálidos da existência. A simples recordação desses momentos poderia transformar um momento de tristeza num de alegria.

Contra o rancor há que opor o bom sentir, a gratidão por tudo que nos proporcionou alguma alegria; a inteligência na convivência, e a esperança, o mágico sentimento a nos lançar para um futuro melhorado e feliz.

A gratidão consciente é uma vivência interior na qual, ao recordar quem nos fez um bem, rendemos-lhe uma homenagem silenciosa e experimentamos uma proximidade muito grande em relação ao nosso benfeitor, mesmo que ele não esteja mais vivendo entre nós. É um sentimento de imponderável valor, pois credencia o indivíduo para novas experiências felizes no futuro.

A gratidão, o sentir agradecido pelo que se viveu, a revivescência sensível de um passado que não deve morrer nunca, é um sentimento mágico, que cada ser humano tem o poder e o dever de cultivar em seu coração.

Sentir é experimentar dentro de si a realidade de uma outra existência, seja ela um ser, um objeto ou um conhecimento, disse certa vez um sábio homem. Assim, um belo lugar fixa-se na recordação; uma pessoa querida, uma lição instrutiva, o animalzinho da infância, um livro, o parente desaparecido.

Ao manter no presente aquilo que vivemos, experimentamos uma sensação de existir consciente que as palavras não têm possibilidade de traduzir.

Nagib Anderáos Neto

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