Cá como lá..más fadas há!!

Cá como lá..más fadas há!

Não sei aquilatar em quem mais dói a dor no tocante ao alcoolismo na família, se ao alcoólatra nos momentos chamados “ressaca moral” ou nela, a própria família. Quando se ama o ente querido que está quase a partir e tudo já foi feito, a sensação é de total descrença e tristeza. Os pensamentos são antagônicos e beiram às raias da loucura, ora queremos morrer, ora lutamos para sair e viver sem preocupações maiores por deixar-mos nosso ente caído em qualquer esquina da vida, ora queremos matar, ora queremos preparar o veneno e tomarmos junto ao alcoólatra. E nos momentos em que a alma tenta achar uma saída, uma investida saudável para a salvação do ente,vem o medo da morte, não de morrer e ir ou não ir para qualquer lugar, seja céu, inferno ou purgatório. O medo é pior e maior, é o medo petrificante de não saber quem cuidará do alcoólatra,ou seja, nem morrer sossegado se pode. Tal medo só quem tem pode sim saber que de tão medonho, ele infarta ele mata eis que é letal. Daí vem o relógio noturno pingando segundos e minutos: é apenas mais um medo, um medo que paralisa e aniquila e faz ouvidos apurados para o barulho do portão. E, quando amanhece, nada não apareceu. Primeiro pensamento: morto, esfaqueado, baleado, afogado, degolado. Em qualquer ermo lugar abandonado e morto. Caminha-se por toda a cidade, amigos?? Eis a longa longa procura. Lugares inusitados: em cima de árvores, antes da delegacia, do hospital e por último: IML. Depois de todas as caçadas..de volta pra casa, casa já ficando imensa. Olhos cansados, sono de não dormir. Eis que ele surge, o coração parecendo cão vira-latas a abanar o rabo, mas logo vê aquele ser estragado, macerado e com fome. Vem a dó, a piedade e mais um agradecimento à Deus “por hoje”, "escapou." Daí vem a etapa da raiva, raiva pura, vontade imensa de abraçar demais e matar demais..um paradoxo dolorido, desgastante doído pois todos os projetos em tais horas são abandonados, jogados fora. O núcleo familiar se divide, a família briga, um a te chamar ser tolo outro a dizer ta certo. E nesta guerra de nervos, onde um vai bater e outro apanha no lugar acaba que o alcoólatra mais uma vez sente limpo o caminho para o amanhã, ele sabe, terá o amparo dos mais sensíveis e, ao apostar em tal impunidade, no outro dia nova agonia. Liga-se para os irmãos, parentes e vizinhos todos com apenas um só conselho, vá dormir, me deixa em paz, você me assustou e outras coisas mais. As escusas pedidas as portas na cara batidas, as delegacias hospitais e IMLs da vida. As amizades perdidas, aliás nem eram amizades, não sei, não posso também aquilatar o medo e a vergonha alheios. Quanta humilhação. Eis que um dia , numa noite o alcoólatra consegue atear fogo na casa. Eis o momento, o desesperador momento que não, não nem é para salvá-lo ou é..não sei dizer talvez, quem sabe, para junto morrer. Pois há momentos em que não existe salvação e o melhor mesmo, é ir inclusive para se certificar se na ida seja aos céus ou aos infernos, não haverá alguma esquina e um bar. Hasta..hasta la vista!

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***Especialmente dedicado à Lurdinha pois à tí Lurdinha esta família aqui deve a vida! D. Zezinha..Hilda..Iraci.. e todos, todos , os vizinhos amigos que estiveram aqui até o fim..Deus os pague..pois nada que eu faça.. será sufiente, pelo gesto amigo demais eu vos agradeço e saibam..estou aqui..como sempre e como sempre aqui estarei!! Meu abraço por saber, vocês estão aqui sim..e disto eu nunca duvidei. Grande Abraço e grata! Quanto à tí meu irmão..vou tentar..sempre..até que um de nós dois caia..ou que caiamos juntos!! Tua Mana Dorothy