As Revisões

Os fatos doravante hermenêuticos, centrados em documentos oficiais ou não, seguramente enfrentam novos desdobramentos. Condizem com investigações complexas - estas sob arquétipos de atender novas vozes e não contradizê-las, mas incluí-las - e, sob efeito, por meio de novas luzes. O contexto atual permite discussões e análises profundas, em debates, geralmente inócuos, pois não atendem às questões, só as fomentam a novos campos e direções. Daí surgem as revisões, historiográficas, etnográficas, filosóficas, entre outros paradigmas, muitas (re)distribuídos e (re)construídos.

A verdade não é absoluta, nem mesmo resoluta, pois sabe-se que interesses ou resoluções podem moldar conjecturas em benefício próprio ou de uma ideologia em particular. Reza Aslan, por exemplo, traz uma perspectiva diferente sobre a vida de Jesus, todavia não surpreende que a estilística favoreça sua argumentação no sentido de cativar o leitor a uma revisão historiográfica e filosófica em favor de sua tese. E outros prognósticos conscientes ou não dessa metafísica ação e retórico-dialética. Segundo Aslan, os primeiros cristãos se esforçaram para dar sentido ao trauma da revolta judaica e suas consequências. embora o estudioso afirme isso, sua revisão não corrobora os ditames ideológicas de religiões cristãs.

Ha todo momento surgem dúvidas e veracidades questionadas carentes de um "revisionamento" crítico e atento aos fatos. Mas, e os condicionamentos em relação aos acontecimentos e descobertas factuais? Em geral, estão relacionados ao fenômeno da revisão de todo conhecimento, uma prática que ainda mantém estritos laços de interesses, quer sejam político-sociais quer filosófico-ideológicos. Essa prática perdura no século XXI, porque:

Os novos movimentos de produção cultural, desencadeados pelo aparecimento de sucessivas modalidades nas mídias eletrônicas , levam também à crítica literária a novas acomodações e revisões conceituais para acompanhar o ritmo dos tempos (HOLANDA: 2011)

Revisar e empreender outros significados não é errôneo, ao contrário, desvelas e revela novos caminhos e apontamentos, sobretudo, abrange outras áreas de conhecimento e as integra ao se investigar sob novas matizes e fontes. Porém, muitas dessas (re)construções travestem-se de engôdos - como do tipo "destituir discursos permissivos e desmembrar a luta de classes. Erro comum de autores engajados em apresentar "o outro lado", pois nesse desenlace fomentam as mesmas concepções ideológicas e, por muitas vezes, tornam suas descobertas retóricas em armadilhas de arquétipos e signos que mantém as postulações factuais num mesmo quadro de imposição em macro e micro observação.

Em séries de revisão, o autor Leandro Narloch afirma que as maiores crises mundiais de fome ocorreram onde a agroindústria não funcionou. Então os cientistas e bioquímicos estão todos equivocados quanto aos efeitos nocivo do uso de agrotóxicos na produção de alimentos? Essa é uma revisão de eventos fatuais em dados condizentes à realidade ou atendem expectativas particulares ou a grupos? Difícil emendar uma resposta satisfatória. O que se percebe é uma tentativa de (re)visores de transubstanciarem suas descobertas como verdades. No meio dessa guerra intelecto-ideológica o observador já não sabe no que ter convicção, pois essas revisões nos deixam com o "pé atrás e orelha em pé".

REFERÊNCIAS

ASLAN, Reza. Zelota: a vida e a época de Jesus de Nazaré. trad. de Marlene suano. 1 ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2013.

HOLANDA, Lourival. Literatura & hipertexto: invenção e intervenção. In: Hipertexto & cibercultura: links com literatura, publicidade, plágio e redes sociais. São Paulo: Respel, 2011.

NARLOCH, Leandro. Agrotóxicos. In: Guia politicamente incorreto da história do mundo. São Paulo: Leya, 2013.