Outubro chegou, e com ele a expectativa para as festas marcantes do mês: o Dia da Padroeira do Brasil, Nossa Senhora Aparecida; o Dia das Crianças e o Dia do Professor. Porém, aquele que sempre se anuncia como um mês de fé, leveza e alegria, desta vez não nos trouxe boas notícias: a tragédia de Janaúba, recentemente ocorrida, ficará como uma mácula indelével neste tenebroso outubro de 2017, deixando um rastro de destruição e, até o momento,  um saldo de dez  mortos e mais de 40 feridos.

A notícia avassalou o País pelo choque, pela dor e violência, quando a imprensa divulgou nas primeiras horas da última quinta-feira — cinco de outubro — todo o horror que atingiu o Centro de Educação Infantil Gente Inocente, na cidade de Janaúba, ao Norte de Minas. Como ficamos nós, diante de  fatos de dimensões tão dolorosas?

O sentimento que nos toma, a princípio, é de incredulidade. É difícil crer que o ser humano seja capaz de tamanha barbaridade como a cometida pelo vigia da própria escola, Damião Soares dos Santos, contra as crianças que festejavam na ocasião a Semana da Criança. Custa crer, custa muito crer que dentro de um ser da mesma espécie dita humana possa palpitar tamanho ódio, tamanha perversidade, embora, segundo informações posteriores, sofresse de transtornos psiquiátricos.

Estupefatos, estarrecidos, tentamos assimilar a extensão de fatos tão hediondos. Pensar na pobre Gente Inocente ardendo em chamas, pensar o recinto tomado pelas labaredas consumindo cartazes,  painéis, móveis, paredes e teto, destruindo vorazmente todo o cenário daquele universo estritamente infantil é algo quase impossível. Consta, aliás, que uma das crianças faria aniversário justamente no dia das crianças. E ela é uma das que partiram da forma mais violenta e estúpida que se possa imaginar.  Por fim, pensar a flor da idade sendo brutalmente decepada, banida da vida de tantas famílias, vizinhos e amigos, beira ao inconcebível.

A escola, de forma geral, já foi um lugar onde pais entregavam suas crianças confiando que estariam protegidas e em boas mãos, enquanto estivessem no trabalho. Hoje vemos que não é mais assim. Há crianças que morrem nas escolas, sob armas de loucos atiradores ou  vítimas de balas perdidas e, agora, sob labaredas incendiárias provocadas por mentes doentias. O que fazer? Para onde correr? Cada vez mais o mundo se transforma num lugar muito perigoso de se viver e, muitas vezes, é o próprio homem quem espalha o terror.

Além da morte das crianças e do vigia, foi registrado também óbito de uma professora que tudo fez para livrar os pequenos da sanha enlouquecida do criminoso. Muitos deles foram salvas por sua coragem, mas ela própria não sobreviveu, em função das graves queimaduras sofridas. Hoje, as vozes de Janaúba a promovem  à condição de heroína e, certamente, daqui por diante se tornará símbolo daqueles que doam a própria vida em favor do semelhante. O certo é que a professora  Heley Abreu Batista é mesmo  prova maior de amor ao próximo. E os pequenos sob seus cuidados, naquele campo de horror, eram o que ela tinha mais próximo.

A tragédia de Janaúba ainda não se encerrou, nem se encerrará. Deixará muitas sequelas, algumas incuráveis, para aqueles que têm agora no lugar dos filhos amados o vazio, a ausência e a certeza de que nada os trará de volta. O que poderá substituir essa dor profunda e inominável? Certamente, para ela não há cura, apenas o tempo e a fé cuidarão para que seja amenizada.

Neste outubro de cores tenebrosas ficamos com as lembranças do drama de Janaúba: das crianças, o riso que se calou. Da professora Heley, o exemplo do amor extremo. Da Padroeira do Brasil, Nossa Senhora Aparecida, a piedade e o consolo em favor dos corações dilacerados pelo espanto, pelo trauma, pela dor e a saudade profundas que jamais se apagarão.