AtOalidades

Se nos transplantássemos para exatos sessenta anos atrás, quando Vicente Feola preparava-se para formar aquele esquadrão que viria a glorificar-se na Copa de 58, na Suécia, o goleiro titular, definitivamente, seria Castilho, e não Gilmar. Esse último anda soltando tudo.

As lembranças que tenho daquela conquista, que coincidiu com a passagem de meus oito anos são bem tênues, mas resistem, nas brumas da memória. O período coincidiu com a mudança familiar - avós e tios incluídos - do povoado do Brumado para a sede municipal de Pitangui, a Velha e Altiva Serrana. A uma légua de distância, e no entanto, era outro mundo. O já mocinho, e vizinho, Matildes, do Brumado, colecionava umas notinhas, replicando o dinheiro então circulante, que traziam efígies dos jogadores. Reserva e tão reservado que era então, o menino Édson, acho que nem dava a cara ao lume nessa coleção. O titular era Dida, do Flamengo, cracaço, cuja maior proximidade de mim, creio, era ter uma namorada em Belo Horizonte...

So much for football. Baixemos a bola, assim como acabou de baixar à terra o corpo de Carmen, conquanto sua estrela continue a brilhar intensamente no colunismo social. Carmen foi a epítome de uma vida de sonhos realizados e idealizados em cascata. Luxo, riqueza e ostentação seriam reduções sobre a sua fulgurante trajetória. Num dos seus inúmeros obituários que pipocam nas redes agora, li que ela, em seu fausto, teria 400 vestidos de haute-couture. E olhem que ela vinha do tempo das anáguas e combinações...

Uma passagem sobre sua existência, que foi longa de 88 anos, que guardo

foi uma declaração sua à revista Caras, há coisa de um quarto de século, e que gerou tanta polêmica, quanto maior divulgação de sua imagem, algo assim:

- Para preparar aquele evento, trabalhei como uma negra...

Ah, pra quê...Tivesse sido mais recente essa sua fala, quem sabe até la de Valois, de nos Humaines Droits, mandaria enquadrá-la...

Mas Carmen se recompôs perante o mesmo público que a seguia, lia e por ela se extasiava, ao dizer que uma de suas colaboradoras domésticas era "telefônica..."

E foi baseado em gente desse perfil que o impagável José Lewgoy fez papel principal na deliciosa e sagaz comédia de costumes "O Ibrahim do Subúrbio", onde, periférico, tomando bonde, com "O Globo" debaixo do braço, sonhava ver o casamento da filha noticiado na Coluna do Ibrahim. E era por tudo o que vivia, na insana idolatria.

Os supra-aludidos remetem-nos a um fenômeno bem atual e que ganha dimensões imensuráveis, justamente em razão da velocidade e penetração das redes sociais: a digital influence. Assim, em inglês, que é fashion.

Vivemos hoje essa alucinação: quem não conhece o poder de um digital influencer, como é o caso dessas meninas, infantiliizadas Kardashians, que vivem de gerar e exa-gerar fortunas incalculáveis. Tudo o que fazem, ou principalmente, tocam, viraliza-sa...

Uma de que tomei conhecimento recentemente, em conexão com a transmissão do Miss Universe foi a Lele Pons, venezuela, que se radicou nos EUA e, por narrar - de forma original - as agruras com que foi bullied como estudante latina naquele país, tornou-se celebridade. E tratou de se aloirar para mais ainda disparar na sua rota estelar...

Sick transit gloria mundi?

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 05/12/2017
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