A Casa de José de Alencar

A Casa de José de Alencar

Oscar Araripe

Em Messejana, Ceará, encerra estética de grande harmonia e beleza. Por isso pode vencer o modernismo destruidor, que arrasou cidades, histórias e culturas em todo o país.

Exemplar perfeito de uma estética mais humana, e, portanto mais grandiosa, a de Alencar é uma casa poderosa.Simples, muito simples. Somente locais de culturas fortes resistiram à sanha destruitix do modernix. Em São Paulo, Rio, Minas, ela a tudo arrasou. Barrocos inteiros, impérios e segundos-impérios, art decô e noveaux, tudo, enfim, foi tragado pelo rolo compressor moderno e destruidor.

Salvaram-se as cidades esquecidas -, e depois ressuscitadas já com a consciência da preservação; e alguns exemplos isolados de prédios, como a nossa Casa de José de Alencar, para mim o mais belo exemplo de casa popular do Ceará.

O que não deixa de ser irônico, já que Alencar, nobre em tantos sentidos, era romântico no bom sentido, pois sonhava libertações, artes, narrativas que pudessem elevar o homem oprimido e dignificar a mulher oprimida; ressaltando-lhes a nobreza da alma, o valor do bom combate.

Ironia de fino valor, sem nenhuma galhofa, a Casa de José de Alencar precisa ser reaberta, ter seu aceso fácil e sua existência plena. Pois são muitas as artes de Alencar. A Arte e o Mundo de Alencar. Alencar e seu Mundo.O Político, o Homem Alencar. Os prés e os pós-Alencar; seus contemporâneos. A Confederação do Equador e a obra de José de Alencar. Ou seja; muitos cômodos possuem a pequena grande casa de José de Alencar. Precisamos reergue-la, como era e como é, e como será, sem dúvida sem a cinta de tijolo aparente (pois basta um pequeno exemplo para ilustrar a didática da construção), mas exatamente na plenitude da sua simplicidade; algo até espantoso, a se considerar o refinamento, a elegância de José de Alencar, e seu estilo impecável.

Foi isto, portanto, aliado à pródiga cultura cearense, sempre perene, que venceu o modernismo arrasador, paulista e inconseqüente. Grande modernista, portanto, grande ironia, soube ser José de Alencar e sua casa vencedora. Monumento sui generis, pura arte e arte pura a um só tempo.

Aqui temos tudo que imaginou e escreveu Alencar, inclusive suas entrelinhas, que crescem com o tempo, como manchas cheias de imagens -, árvores que se abraçam, terra de cajus que se comem crus. Matéria e não-matéria, a serem preservadas, para deleite e crescimento de todos.

Estamos Juntos.

Oscar Araripe é pintor, escritor e jornalista.

Oscar Araripe
Enviado por Oscar Araripe em 25/10/2005
Código do texto: T63326