REFLEXÕES BRASÍLICAS

Pintores europeus que visitavam o Brasil em séculos passados reclamavam do excesso de exuberância das nossas paisagens: para eles, acostumados como estavam à sobriedade cromática e paisagística do velho mundo, as cores de nossos rios, bosques e matas eram muito vivas e muito vibrantes, chegando a ser exageradas.

Talvez esse exagero inato e espontâneo seja apanágio mesmo de nossa natureza - não apenas do solo, da flora e da fauna, mas da própria essência de nossa sociedade e cultura. De fato, se olharmos com olhos verdadeiramente críticos para nossa nação, veremos que, no Brasil, o que é bom é exageradamente bom, e o que é mau, é exageradamente mau. Das mazelas que nos oprimem às ternuras que nos afagam; do crime que lentamente nos mata à esperança que diariamente nos reaviva; da sordidez dos que nos corrompem à hombridade daqueles que, com um sorriso no rosto em meio às adversidades cotidianas, nos inspiram a tocar em frente e seguir adiante; da fé do povo à impiedade dos governantes.

O Brasil é, em suma, essa mescla feérica de diferenças gritantes - um gigante deitado em berço esplêndido, oniricamente perdido entre sonhos e pesadelos: um eterno processo sócio-dialético entre o que há de melhor e pior no mundo.

Este país tem, realmente, a capacidade de despertar - em si e por si - o amor e o ódio com igual intensidade. E, por bem ou por mal, talvez seja isso o que o torna tão irresistivelmente fascinante. Somos um microcosmos de toda a tragédia existencial humana.