DO TERMO RESPEITO, FUNDAMENTADO NO DEVER MORAL KANTIANO

DO TERMO RESPEITO, FUNDAMENTADO NO DEVER MORAL KANTIANO

Jhonatan dos Santos Oliveira

RESUMO:

Este presente artigo tem por finalidade assinalar a visão do filósofo Immanuel Kant sobre seu conceito do termo respeito, este sendo ferramenta fundamental do dever moral kantiano. O artigo está principalmente baseado do seu livro “Crítica da Razão Prática”. Primeiramente daremos uma introduzida na vida e pensamento de Kant, e depois será trabalhado o termo respeito em algumas áreas diferentes, resumindo este termo e conciliando com a visão do filósofo Kant; mostrando assim como se dá o termo do respeito necessariamente no dever moral kantiano, e a sua implicação com o altruísmo. Dando respostas assim de Kant, sobre as formas de egoísmo na nossa sociedade.

Palavras - chave: Kant, Respeito, Dever moral e Altruísmo.

Sumário: Introdução. 1 Introdução ao pensamento Kantiano. 1.1 Vida de Immanuel Kant. 1.2 Influências e filosofia de Immanuel Kant. 1.3 Dever moral Kantiano. 1.3.1 Da crítica da Razão Pura. 1.3.2 Da Crítica da Razão Prática. 2 Do termo respeito. 2.1 Terminologia da palavra respeito. 2.2 Respeito na concepção filosófica em geral. 2.3 Respeito na concepção ética e moral, dentro dos contextos antigo e moderno. 3 Do termo respeito em Kant. 3.1 Respeito decorrente ao dever pela lei moral, em Kant. 3.2 Respeito altruísta apresentado como dever moral na filosofia kantiana. Conclusão. Referências.

Introdução:

Este presente artigo esta baseado no pensamento do filósofo moderno Immanuel Kant; tem como finalidade abordar e delimitar o termo de respeito, este termo que está principalmente trabalhado e fundamentado na concepção do dever moral kantiano. Retirando as idéias principais desse tema na obra Crítica da Razão Prática, escrita por Kant, no ano de 1788.

Por meio da obra Crítica da Razão Prática buscará expressar no artigo da melhor forma possível uma introdução ao filósofo e de seus pensamentos. Para que assim possa demonstrar o pensamento originário de Kant ‘as idéias a priori’, mostrando como estas determinam nossa vida; fazendo também uma separação das idéias a posteriori. Este artigo mostrará como seu pensamento original trouxe à tona as idéias universais, essas que fazem parte do dever moral que Kant estabelece a partir delas.

Tendo introduzido o dever moral kantiano como máximas a serem cumpridas, o artigo abarcará a partir daí o conceito de respeito, e como este conceito é subordinado ao dever moral kantiano.

Mas antes de falarmos do respeito para Kant, primeiro iremos conceituá-lo nas visões: terminológica, na concepção filosófica em geral e na concepção da filosofia moral e ética; para, apartir de seu resumo, poder conciliar com a visão de respeito que o filósofo concebe acerca de seu dever moral.

Analisando o dever moral kantiano, buscaremos neste artigo, entender a liberdade do ser humano dentro do dever moral e ao mesmo tempo como se dá o respeito à lei moral, neste caso, estando fundamentado exclusivamente na razão, e dando a esta primazia.

E por último, mostrará aqui um respeito altruísta, que em todos os casos procede em função do outro e não de si mesmo. Implicando por fim, em uma reflexão sobre o respeito ao outro. Demonstrará aqui também esse outro principalmente como um fim, e nunca como meio; tentando por esta via solucionar o problema do uso do outro como um objeto de descarte.

1 Introdução ao pensamento Kantiano

Como explicitado na introdução, este presente artigo fará uma abordagem quanto à concepção do termo respeito, este, estando intrínseco no dever moral Kantiano, mas para isso devemos, de passo a passo, entender o pensamento de Kant presente em suas obras como veremos a seguir, mas antes vamos entender sua vida influência e filosofia.

1.1 Vida de Immanuel Kant

Immanuel Kant nasceu no dia 22 de Abril do ano de 1724 em Königsberg, na Prússia Oriental, uma antiga cidade da Alemanha, onde lá permaneceu sua vida toda, com exceção de um pequeno período que lecionou em uma aldeia próxima. Ele veio de uma família humilde que saiu da Escócia.

No decorrer de sua vida foi grande estudioso e dedicado, era muito interessado pelas ciências naturais e pela física, física essa que em seu contexto estava fundada no cientista Isaac Newton; se dedicou, portanto em grande parte de sua vida aos seus estudos para vir elaborar suas tão conhecidas obras, entre elas esta a Crítica da Razão Prática, que logo veremos no decorrer desse artigo. Em 1755, estudou matemática e filosofia na Universidade de Königsberg.

Immanuel Kant faleceu no dia 12 de fevereiro do ano de 1804.

Sua filosofia foi e é muito importante aos dias de hoje; veremos uma introdução dela no próximo item, que dá bases a sua ética, ética essa que fundamenta a sua teoria de respeito.

1.2 Influências e filosofia de Immanuel Kant

Mesmo não podendo se isolar da fortíssima da corrente filosófica do ceticismo que havia em sua época com grandes pensadores, como por exemplo, o filósofo Nietzsche, Kant teve muita influência de sua mãe que era pietista, fazendo com que ela assim tivesse uma visão religiosa de mundo; o filósofo, portanto foi muito ligado a religião e as questões fundamentais da fé. Ele era preocupado com o processo civilizatório e acreditava nos ideais republicanos do século XIX.

O filósofo Immanuel Kant foi um dos principais revolucionários quanto à filosofia racionalista moderna, por ter dado a esta uma nova cara. O racionalismo foi inaugurado pelo filósofo René Descartes; esta vem começar a priorizar a Razão, dando a ela autonomia da forma de conhecimento empírica (conhecimento a partir dos sentidos), pois antes do racionalismo a teoria do conhecimento se baseava apenas nos sentidos.

Kant foi diferente do racionalismo de René Descartes, que dava a primazia a teoria do conhecimento fundamentada exclusivamente razão, e diferente do empirismo de David Hume, esse que por sua vez daria primazia a teoria de conhecimento fundamentada exclusivamente nos sentidos. Sua posição e filosofia conciliava o racionalismo, que perpassava na sua época, com a clássica teoria do empirismo; ele propunha apartir daí uma nova visão de conhecimento, pois o conhecimento para ele estava presente na nossa faculdade dos sentidos e ainda a priori na nossa faculdade da razão. Ele pode entrelaçar ambas de certa forma que em sua filosofia fica nítida a autonomia de ambas e ao mesmo tempo a dependência entre essas faculdades, que para ele devem ser usadas juntas para se chegar a um conhecimento mais sólido.

Kant no meio dessa dicotomia do conhecimento questionava sempre a possível Razão Pura tendo ela autonomia dos sentidos e assim de toda a experiência sensorial, deixa seu método assim conhecido como criticismo. Superando essa dicotomia, Immanuel Kant diz o conhecimento sendo feito de matéria e forma; essa matéria seria as coisas em geral que percebemos por meio dos sentidos; já a forma vem da nossa faculdade de perceber as coisas que e associarmos ao nosso conhecimento a priori e após isso refletir de forma a posteriori.

Tendo como pressuposto sua filosofia primeira, sendo esta os princípios de conhecimento do homem e do mundo em Kant, podemos agora dar início a sua forma de pensar o dever moral que Kant da início.

1.3 Dever moral Kantiano

Kant, como dito na introdução, antes de escrever sua obra a Critica da Razão Prática e ainda de dizer do seu dever moral, escreve outra obra, esta, por sua vez, é a Critica da Razão Pura. Da passagem da Crítica da Razão Pura para a Crítica da Razão Prática nós entendemos como, a necessidade de dar respostas práticas as especulações em que nossa razão é limitada, até chegar a sua ética. De passo em passo faremos um caminho com as duas até chegar aos nossos objetivos.

1.3.1 Da obra Crítica da Razão Pura

Na Crítica da Razão Pura, Kant vai tratar de alguns conceitos, como o da verdade, dizendo que esta, nós não a encontramos de fato nas nossas experiências, já que a experiência por si só nos engana, ele diz que a verdade esta a priori, sendo que toda a verdade deva vir antes de todas as nossas experiências a posteriori, do contrário, nossos conceitos de verdade baseado nas nossas experiências nunca serão da mesma forma para todos, já que a imagem que eu tenho do objeto a partir da minha experiência dele, não é a mesma que outra pessoa terá, pois ela fará uma experiência diferente da minha, fazendo o conceito de verdade ser subjetiva. Além de várias outras coisas presente na obra Crítica da Razão Pura. Porém dizendo da limitação de nosso intelecto humano ele não aborda alguns temas como liberdade, Deus e também não trata da eternidade; dizendo da impossibilidade da nossa Razão teórica demonstrar tais conceitos.

Assim, Kant escreve sua obra: Crítica da Razão Prática, apartir dos conceitos acima que ele não trabalhou anteriormente na Crítica da Razão Pura; quanto a Crítica da Razão Prática veremos agora como se desenrolou sua filosofia, nos ajudando assim a desenrolar esse artigo que esta fundamentado exclusivamente nessa obra.

1.3.2 Da obra Crítica da Razão Prática

Agora cabe na Crítica da Razão Prática que ele escreve para aumentar o entendimento teórico puro, tentando encontrar objetos que ainda não se encontram no conhecimento especulativo teórico. Um fato para ele, é que os conceitos como: Deus, alma, liberdade e etc. se encontram de algum modo na nossa razão; estabelece então uma amplificação da razão pura para aquilo que ele chama de razão prática pura, pois da mesma forma, isto é, há uma só razão, tendo assim por meio destas duas, formas sistemáticas para sermos capazes de reconhecer e compreender as representações da natureza transcendente.

Quanto ao seu dever moral propriamente dito, o filósofo escreve na sua obra, a Crítica da Razão Prática, sobre as ações, e a essas ele afirma seu tão famoso “imperativo categórico”, dizendo: “Age de tal modo que a máxima de tua vontade possa valer-te sempre ao mesmo tempo como princípios de uma legislação universal” (2006, p. 40), ele quer dizer aqui que dever agir para com os outros da mesma forma que se age consigo mesmo, ou se espera do outro para si; sendo assim, nós podemos concluir que, a razão pura é em si prática, pois ela sempre dá ao homem uma lei universal; universal esta que não é de maneira alguma subjetiva (não subjetiva no sentido de princípios criados pela sociedade baseados na razão) e vale para todos sem exceção de ninguém, a essa também denominamos “lei moral”, a esta devemos cumprir por dever, nada mais do que dever. Kant dizendo da universalidade como não utópica dá o exemplo da geometria pura em seu livro, dizendo:

“A geometria pura tem postulados que são proposições práticas, os quais só contêm todavia a suposição de que se se pode fazer alguma coisa quando se exigir que se deve fazer, sendo estas as únicas proposições da mesma concernentes a uma experiência. São conseqüentemente regras práticas recaldas ob uma condição problemática da vontade. Entretanto a regra diz aqui que deve proceder de certo modo absoluto.”(1959, p. 41).

Concluindo, para ele nós recebemos a regra prática, de como julgar e/ou viver corretamente, esta regra está de modo totalmente incondicionada; consequentemente à nossa vontade é objetivamente determinada pela mesma lei. Aqui entendemos o dever moral que Kant estabelece por meio da Crítica da Razão Prática. Para Kant então, a lei moral é quem vai determinar nossa vontade, partindo da nossa própria razão e também dando nos possibilidade de termos cada vez mais uma vontade livre; livre e sem nenhuma inclinação a prazeres sensíveis, sendo assim a lei moral passa pra ele ser cada vez mais auto-suficiente.

Para o filósofo Immanuel Kant, as leis morais devem ser colocadas em praticas na extrema função do dever; inaugurando assim uma ética deontológica, no que seria agir pelos meios, esses meios seriam os deveres. Em contrapartida temos a ética teleológica, esta necessariamente no ato de agir corretamente em vista de algum fim, seja ele como for.

Como acabamos de ver, a ética dos meios de Kant esta fundamentada na razão prática; mas essa é uma das suas asas, a outra encontra-se no puro conceito de liberdade. Levando o pressuposto de Immanuel Kant, que devemos agir por dever e nesse dever nós julgaremos a ação a partir do valor moral (na razão prática), só se consegue atingir isso plenamente se a outra cara da moeda estiver presente, essa como já disse é a liberdade, que faz nossa vontade ser livre.

Tendo já tido agora essa explanação do pensamento de Kant, podemos agora trabalhar o termo respeito em si, e logo em outro capítulo fazer as articulações possíveis dos princípios, que acabamos de ver de do filósofo, com o termo do respeito.

2 Do termo Respeito

Do termo respeito, devemos considerar vários pontos de vista que, ao mesmo tempo em que são distintos, parecem no termo respeito haver uma concordância, aonde esse conceito nas diversas áreas vem ao encontro, dentre elas vamos trabalhar, duas áreas das quais são: filosofia geral, e ética/moral, para assim conceituarmos da melhor forma possível e não nos prolongarmos muito para chegarmos ao foco, este que é a filosofia de Kant.

Mas antes disso vamos abordar no que “diz respeito” a sua terminologia da palavra.

2.1 Terminologia da palavra respeito

No estudo do termo da palavra respeito, diz um terminologita que ela é um conceito de moral mútua; sendo essa palavra para ele, um tipo de equilíbrio da sociedade, onde as diferenças são retiradas, para dar espaço à união e não a separação entre as pessoas, nisso, retirasse todas as diferenças que estão em foco, seja elas idade, condição econômica, física, étnica, política, religião e as demais, que são responsáveis por nos categorizar e separar, e não são responsáveis pela união; cabendo o respeito moral mútuo intervir. Assim mesmo diz o terminologista:

“O respeito mútuo é de certo modo a forma de equilíbrio para o qual tende o respeito unilateral quando se apagam as diferenças [...] como a cooperação constitui a forma de equilíbrio para o qual tende a coerção nas mesmas circunstâncias. São as formas de equilíbrio não só limitadas, mas ideais.” (BATTRO, 1978, p. 213)

Tendo o conceito de respeito proveniente da terminologia passemos agora para a filosofia geral.

2.2 Respeito na concepção filosófica em geral

Na filosofia podemos ver o termo de respeito em diversas visões de filósofos diferentes, mas podemos resumir esse na palavra reconhecimento; esse reconhecimento na filosofia esta em si mesmo ou na sua própria dignidade de ser humano. No ser humano quer dizer, da dignidade que todos nós possuímos, sem exceção de ninguém, sendo-nos seres humanos, pois temos a mesma essência, assim todos têm a mesma dignidade. Já na filosofia prática, entram ai ações no que dizem da palavra respeito, ações estas que fazem nosso comportamento.

Como diz em um dicionário de filosofia: “Reconhecimento da dignidade própria ou alheia e comportamento inspirado nesse reconhecimento” (ABBAGNANO, 2000, p. 854). Sendo assim podemos ver de uma forma ampla, mais objetiva, voltado para a prática.

Passando agora para mais uma última área do conhecimento, vamos trabalhar e conceituar o respeito na perspectiva da ética e moral no próximo item desse capítulo.

2.3 Respeito na concepção ética e moral, dentro do contexto antigo e moderno

Abordando agora no campo da ética e moral esse termo, podemos compreendê-lo de uma forma geral, dizendo que o mesmo é um sentimento intrínseco do ser humano, com o qual nos foi dado de uma forma transcendental para um fim ordenador; este respeito, não vem para algumas pessoas em particular, mas está presente em todas as pessoas, povos e nações; está dentro, portanto, do caráter divino sagrado, pois todos os tipos de comunidades, tribos e sociedades pedem-se para que sejam levadas em consideração, suas formas de pensar, sejam estas os deuses, anfitriões, mitos, os reis, os pais, e etc. Como uma autora mesmo expõe em eu livro:

Fundamentada sobre o respeito, dom divino, a comunidade humana eleva-se acima da simples natureza. O respeito é sentimento de ordem fundadora que se impõe a todos e pela qual todos devem zelar [...] [...] O respeito dirige se ao mesmo tempo a força a temer e à fraqueza a proteger, das quais reconhece o caráter sagrado. Ele se curva diante do que procede, que dá nascimento, que funda, e lhe dá atenção.” (Spember, 2003, p. 502).

O respeito na visão moral grega, mesmo sendo um tipo de temor ou amor, é acima de tudo um dom, dom esse que se manifesta no reconhecimento, que é ao mesmo tempo político e religioso. Tal dom deve ser dado de forma espontânea e não de forma a ser uma coerção.

Na modernidade, as pessoas no geral querem que seus direitos sejam respeitados ao máximo, diferentes da sociedade tradicional, que ao contrário disso se volta para os direitos e respeitos de outrem. Já a sociedade tradicional, na concepção moral, sempre esta voltada para trás, para o outro com o qual se conta, para o espírito de comunidade, e para o qual se volta, buscando todos os recursos suficientes para ajudar. E Sobre isso também, o mesmo livro citado acima diz:

“Quando a comunidade tradicional morre e emerge o indivíduo, isto é, a pessoa abstrata substituível de direito por qual quer outra - e, portanto, também em luta potencial com qualquer outra pela obtenção dos mesmos lugares -, o antigo respeito se perde. Na sociedade moderna igualitária o indivíduo tende a fazer respeitar seus direitos e explorar ao máximo seu direito, em vez de respeitar o direito de outrem ou, simplesmente, de respeitar outrem.” (Spember, 2002, p.502)

Concluindo, mostra - se aqui no campo da moral e da ética, que o respeito esta em primeiro lugar, no puro dom, e este exercido livremente, a fim de se voltar para o outro e não de si mesmo.

Depois de ter introduzido o filósofo Immanuel Kant e de ter explanado o conceito de respeito em algumas distintas áreas, podemos agora voltar ao dever moral kantiano, e ver como lá se dá esse termo do respeito.

3 Do termo respeito em Kant

Quanto ao respeito, ou, em outras palavras, reverência, nós veremos agora ele sendo aplicado no dever a lei moral e as pessoas em nossa volta, dando um sentido prático a ele.

3.1 Respeito decorrente ao dever pela lei moral, em Kant

Com respeito à lei moral o filósofo Kant a significa de almejar o supremo bem a sua finalidade, pois em virtude daí que o homem alcançará sua felicidade, e esta felicidade não ligada a sensações, mas a própria liberdade verdadeira. No pensamento dele, nem a Deus e nem ao homem encontramos fundamentos para o respeito, mas sim encontramos apenas dentro do próprio dever a lei moral, pondo essa no patamar da independência da Razão. E concluindo nas palavras de Kant, ele vem dizer: “O respeito é um tributo que não podemos negar ao mérito, queiramos ou não; embora, em todo o caso, possamos deixar de manifestá-lo exteriormente, não podemos, todavia, impedir de senti-lo inteiramente” (2006, p. 99). Portanto para Kant, não se pode de maneira alguma negá-lo!

Para Immanuel Kant, esse não é um sentimento que por excelência é prazeroso, já que o respeito à lei impõe para nós certas privações, como que assim quebrando certo amor próprio que nós temos; mesmo sendo que é por ele mesmo que encontramos a liberdade, determinada por essa lei, e apenas nela. Concluindo o filósofo Kant, na sua obra “Crítica dos Juízos”, sobre esse sentimento de respeito, diz que:

“Na verdade, na Crítica da Razão Prática, efetivamente, deduzimos a priori de conceitos morais universais o sentimento de respeito (como uma modificação particular e peculiar deste sentimento, que justamente não quer concordar com o prazer nem com o desprazer que obtemos de objetos empíricos).” (2012, p. 62).

A conclusão acerca do respeito, em Kant, está na forma mais sincera e na forma mais genuína para dar fundamento para todos nós cumprirmos a lei moral Kantiana.

Tendo visto como se dá o respeito na lei moral kantiana, e tendo como pressuposto que essa lei nos faz voltar para o outro, veremos agora como se dá, esse dever de respeito que temos que ter para com as pessoas em nossa volta.

3.2 Respeito altruísta apresentado como dever moral na filosofia kantiana

Kant liga o termo de respeito ao altruísmo, pois para ele, está ligado a nossa estima, reverência e reconhecimento por excelência do outro, e não de nós mesmos. O respeito para ele esta longe de ser um respeito egoísta, onde a pessoa só se auto-valoriza, pelo contrário, ele propõe em sua filosofia, um olhar quase que cristão, um olhar ao outro, mas esse olhar com exagero, como visto no capítulo anterior; Kant eleva tanto a razão, e é esta que para ele nos põem ao encontro do respeito do outro, quebrando de certa forma nosso amor próprio. Usando a proposição cristã, no que se refere “Amar o próximo como a ti mesmo”, a essa ele baseia sua lei ética da perfeição; fica nítido o amor e o respeito voltados para o altruísmo.

No seu livro “A Metafísica dos Costumes”, acerca desse dever de respeito para com todos, em que o ser humano deve ser tratado como fim, e nunca como meio de nossas ações, Kant diz:

“Todo ser humano tem um direito legítimo de seus semelhantes e está, por sua vez, obrigado a respeitar todos os demais. A humanidade ela mesma é uma dignidade, pois um ser humano não pode ser usado meramente como meio por qual quer ser humano (quer por outros quer, inclusive, por si mesmo), mas deve sempre ser usado como fim. É precisamente nisso que sua dignidade (personalidade) consiste pelo que ele se eleva acima de todos os outros seres do mundo que não são seres humanos e, no entanto podem ser usados, e assim sobre todas as coisas.” (2010, p.206 e 207).

Neste trecho temos uma ampliação do termo respeito, aqui como um reconhecimento da dignidade de todos os seres humanos, dignidade essa, que como ele bem disse, não deve ser comparada com nenhum outro ser que não seja ser humano, pois a este cabe a nós apenas usar outro como fim, e nunca como meio de nossas ações.

Analisando a nossa sociedade, por muitas vezes tratamos as pessoas como meros ‘objetos’, assim não damos a elas seu reconhecimento, reverência, dignidade e respeito necessário que elas têm por direito de receber. Os filósofos contemporâneos falam muito do conceito de pessoa descartável; pessoa da qual, uso até onde me serve e depois que não me serve mais para nada eu a descarto; perde aqui todo o respeito e consideração da dignidade intrínseca de cada pessoa. Cabe aqui uma frase que já está ‘batida’, mas ainda é rica: “ninguém é melhor e/ou diferente de ninguém”; seja esta pessoa, pobre, doente, idosa ou mesmo sendo um detento; portanto o respeito não deveria de maneira alguma ser aplicado diferente para nenhuma pessoa; já que pela nossa essência somos iguais e deveríamos compartilhar dos mesmos direitos e deveres.

Não precisamos nesse assunto tratar apenas do hoje, pois desde tempos antigos já se falava nisso. Um exemplo é o de Aristóteles, um filósofo clássico do século IV a.C., que afirma em seu livro “Ética a nicomaco”, dizendo que:

“Ora os que se amam por causa de sua utilidade não se amam por si mesmos, mas em virtude de algum bem que recebem do outro. Idêntica coisa se pode dizer dos que se amam por causa do prazer; não é devido ao caráter que os homens amam as pessoas espirituosas. Logo, os que amam por causa da utilidade, amam pelo que é bom para eles mesmos, e os que amam por causa do prazer, amam em virtude do que é agradável a eles, e não na medida em que é útil ou agradável.” (1984, p. 181)

Portanto, aqui ele expressa o interesse pelo qual nós amamos; ele diz bem da utilidade e do prazer como se fossem formas próprias do amor; mas a ele, esse amor deveria se dar em forma de caráter; caráter esse que faço ponte com Kant, já que este está conciliado no dever moral kantiano. Da mesma forma Aristóteles conclui a amizade, no mesmo livro, dizendo que:

“De forma que essas amizades são apenas acidentes, pois a pessoa amada não é amada por ser o homem que é, mas por que proporciona algum bem ou prazer. Eis porque tais amizades se dissolvem facilmente, se as partes não permanecem iguais a si mesmas: com efeito, se uma das partes cessa de ser agradável ou útil, a outra deixa de amá-la.” (1984, p. 181).

Por fim, o problema que Kant enfrenta não é exclusivamente dele, ou de sua época, mas ele foi responsável para dar uma explicação sistemática e sugestões plausíveis no que diz respeito ao conceito de respeito relacionado com o dever moral do mundo, e como se dá suas aplicações com o nosso próximo.

Conclusão:

Tendo nós acompanhado todo o pensamento, raciocínio e caminho percorrido pelo filósofo Immanuel Kant, e no desenrolar de tudo isso podemos agora concluir com algumas breves reflexões. Estas são:

Primeiramente, que tendo sido influenciado pelos racionalistas de sua época, Kant introduz um novo tipo de pensamento filosófico a respeito do mundo e do homem, esse é o da dedução transcendental; esse novo pensamento que se dá de forma concreta na sua teoria de conhecimento e depois no seu conceito de dever moral com o qual vai reger nossos comportamentos neste mundo. Chegando a suas conclusões, Kant, tendo inaugurado a sua ‘Razão Pura Prática’ apartir de seus novos pensamentos, nos deixa claro que de alguma forma existem leis universais, que são responsáveis para nos reger e que apartir delas somos proporcionados de liberdade.

Não teve como tratar do conceito de respeito em Kant, sem anteriormente termos analisado outros pontos de vistas, que nos ajudou a fazer uma síntese e conciliar no pensamento kantiano.

Percebemos que depois de termos analisado, nesse presente artigo, algumas visões diferentes de respeito, mas que de certa forma estão interligadas, podemos aqui concluir que o filósofo Kant também não ficava de fora ou distante das demais visões analisadas por nós da palavra respeito. Pois, mesmo na terminologia da palavra, que dizia desse respeito sendo à maneira do equilíbrio das diferenças da sociedade; mesmo na convicção filosófica em geral, que aqui para nós neste artigo, resumiu o respeito no reconhecimento da dignidade do ser humano, este que leva a prática de uma mudança de comportamento; e por fim, mesmo na concepção da filosofia moral e ética que chegamos à conclusão que o respeito é intrínseco ao homem, como um dom livre voltando-se sempre para o outro. Kant não só afirma que o respeito é o responsável por equilibrar as diferenças na sociedade, um reconhecimento da dignidade do ser humano e sendo intrínseco ao homem para se voltar ao outro. Mas podemos, ver concluindo esse artigo, que Kant ligado a tudo isso, foi capaz de ressignificar o conceito de respeito, pondo o em um outro patamar, este prático, que esta na utilização em nossas vidas.

Por fim fica nítido que a este respeito na visão de Kant, ele concilia com a lei moral, sendo seu fim a felicidade, essa não proveniente da sensação, mas da liberdade verdadeira. O respeito se fundamentando no próprio dever a lei moral, e dando, portanto uma independência a razão; e ele nos dando base para cumprirmos a lei moral kantiana.

Podemos ver neste artigo que o respeito prioriza única e exclusivamente o próximo, e não a nós mesmos. A razão, que foi tão elevada por Kant, vai ser a ponte a nos levar até o encontro do respeito do outro. Este outro que, conforme vimos, não pode de forma alguma ser tratado como meio, mas como fim, este que é felicidade, e esta que é a liberdade.

A cada um de nós, somos semelhantes de dignidade e temos o dever de nos respeitarmos mutuamente. Não devemos tratar as pessoas como um ‘objeto descartável’, mas utilizando do caráter, intrínseco a nós, que valoriza o próximo como a nós mesmos e estabelecendo amizades fiéis, em vista de uma sociedade cada vez mais fraterna e civilizatória.

REFERÊNCIAS:

ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. Tradução: Alfredo Bosi. Livraria Martins Fontes Editora Ltda. 4ª Edição. 2000. SP Brasil.

ARISTÓTELES. Ética a nicômaco. Tradução: Leonel Vallandro e Gerd Bornheim. Editora Abril. 1984. SP Brasil.

BATTRO, Antonio M. Dicionário Terminológico de Jean Piaget. Tradução: Lino de Macedo. Editora São Paulo. 1978. SP Brasil.

CANTO-SPENBER, Monique. Dicionário de Ética e Filosofia da Moral. Editora Unisinos. 2° Volume. 2003. RS Brasil.

CAYGILL, Howard. Dicionário de Filósofos – Kant. Tradução: Álvaro Cabral. Jorge Zahar Editor. 2000. RJ Brasil.

DURANT, Will. Os Grandes Filósofos – A Filosofia de Emanuel Kant. Tradução: Maria Theresa Miranda, Editora Tecnoprint Ltda. 2000. RJ Brasil.

KANT, Immanuel. A Metafísica dos Costumes. Tradução: Edson Bini. 1ª ed. São Paulo: Folha de São Paulo. 2010. SP Brasil.

KANT, Immanuel. Crítica da Faculdade do Juízo. Tradução: Valério Rohden e António Marques. 3ª ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária. 2012. RJ Brasil.

KANT, Immanuel. Crítica da Razão Prática. Tradução: Afonso Bertagnoli. Editora Tecnoprint Ltda. 2000. RJ Brasil.

Jhony Paladino
Enviado por Jhony Paladino em 17/08/2018
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