O SONHO DE TER UM SÍTIO

Theopisto e Cinira desde que mudaram para São Paulo, há 40 anos, nunca deixaram de pensar em voltar para Minas, quando se aposentassem.

Quando a aposentadoria aconteceu, viram realizados os seus sonhos. Voltaram para a terrinha, compraram uma casa na pequena cidade de origem e pensavam em viver a vida tranquilamente. Em São Paulo ficaram as duas filhas, já casadas e os quatro netinhos.

As economias que trouxeram, deram para pagar a casa e ainda sobrou um bom dinheiro.Com o passar do tempo a Cinira, vendo os seus vizinhos saindo para passarem o fim de semana em seus sítios, morria de inveja dos mesmos, e começou também a alimentar a ideia de terem também o seu.

A partir daí não dava sossego ao marido, sempre dizendo que teriam que comprar um sítio. Dizia:-será o lugar ideal para passarmos uns dias, tranquilos, sem preocuparmos com nada.Tanto falou sobre o assunto, que um dia ficou sabendo que um sítio estava à venda, próximo à cidade. Convenceu ao marido de irem olhar o tal sítio. Foram e agradaram muito do local e da casa. O terreno não era grande,mas dava para plantar, criar umas quatro vacas, terem umas galinhas,etc. A horta e o pomar já existiam, bem como um pequeno curral,uma pocilga também pequena e um galinheiro.

Combinaram no preço e o sítio foi vendido de “porteira fechada”, isto é, com todas as benfeitorias e animais existentes.

Depois da papelada pronta, trataram de dar um retoque na casa e algumas modificações no terreiro e jardim.

Agora, por sugestão da mulher, teriam que fazer uma festa de inauguração com a presença dos amigos.A festa foi marcada para um sábado, a partir do meio dia. Seria um churrasco regado a cerveja e uma boa pinga para ao adultos e refrigerantes para as crianças. Foi feita uma grande churrasqueira com tijolos. Na sexta-feira foi comprada a carne, bebidas e tudo o que seria necessário para a ocasião.

No fim da tarde da sexta-feira o Theopisto, depois de trabalhar o dia todo, já não aguentava mais de cansado. Neste final de semana iriam dormir no sítio. Ali pelas oito horas foi dormir e disse para a mulher:-como marquei com os convidados para virem ao meio dia, poderei dormir até às nove horas.

Caiu na cama e dormiu rapidamente.Ali pelas sete horas da manhã ,ouviu o barulho de um carro chegando em seu terreiro.Quem poderia ser àquela hora? Daí a pouco chegou outro carro. Como ninguém abriu a porta da casa, começaram a buzinar .

Ainda de pijama, o Theopisto abriu a janela e deparou com os seus vizinhos que haviam sido convidados.Todos já estavam no terreiro e um outro carro chegou trazendo meninos da mesma rua.

Foi um lufa-lufa.O Theopisto abriu a porta e os adultos entraram para a sala. Os meninos, no terreiro, faziam a maior bagunça:- Abriram a porta do galinheiro e as galinhas saíram; abriram a porteira do curral e soltaram os dois bezerros que foram se ajuntar com as vacas, mamando todo o leite; trepavam no pé de manga,balançando-o e derrubando mangas maduras e verdes; fizeram uma bagunça generalizada...

O dono da casa ficou completamente perdido.Não sabia se olhava a bagunça do terreiro ou se começava a preparar a churrasqueira.Mesmo com a ajuda de alguns adultos convidados ele já não estava aguentando o cansaço. Suava em bicas, com muito custo conseguiram acalmar os meninos que também já estavam cansados e a fim de comerem alguma coisa.

O nosso amigo Theophisto, ainda de pijama, foi alertado pela mulher para vestir uma roupa melhor. O tempo foi passando, mas as dificuldades aumentavam: faltam copos, as cervejas não gelaram direito, a água da cozinha já estava acabando e a do filtro já havia acabado.E assim foi o resto do dia.

Ali pelas três horas as visitas começaram a sair. Outras ficaram até às cinco. Quando as últimas saíram, os donos da casa assentados em um dos degraus da escada que dava para a casa, com as mãos no rosto molhado de suor, maldiziam o momento que tiveram a ideia de comprarem um sítio. E ali mesmo decidiram que iriam vendê-lo o mais rápido possível.

Porém, antes de tudo, ainda iriam passar a noite trabalhando, tentando colocar tudo nos seus devidos lugares...

E viva o sítio!

Murilo Vidigal Carneiro

Calambau, setembro de 2018

murilo de calambau
Enviado por murilo de calambau em 14/10/2018
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