Pessoas admiráveis

É admirável a pessoa que, sabendo-se que, no uso da sua inteligência, faz apenas o que pode fazer, e contenta-se com as suas realizações, e não se desespera ao ver que outras pessoas mais inteligentes fizeram mais do que ela fez e foram mais longe do que ela foi.

Tem valor toda pessoa que, no decorrer de sua vida, aprende a reconhecer a força de sua inteligência, e sabe o que com ela pode produzir, seja algo pequeno, seja algo grande, e, mesmo reconhecendo que não pode ir até aonde muitas pessoas mais inteligentes foram, tem ciência do valor, mesmo que pequeno, de suas obras, e respeita-se, e considera-se valiosa apesar de todas as suas limitações, e admira, e valoriza, as obras daquelas pessoas que, dotadas de inteligência superior, lhe podem mais, e admira-as, e valoriza-as, e reconhece-lhes a superioridade, e felicita-se ao conhecer-lhes a vida de grandes realizações.

E toda pessoa que, percebendo em outras pessoas superioridade, e certa de ver em si mesma uma inteligência inferior, quer realizar mais do que pode realizar, quer ir até aonde foram aquelas que lhe são superiores, não reconhecendo em si pessoa de inteligência inferior, conquanto saiba que o é, e, em seu orgulho não reconhecendo nas outras a inteligência superior, conquanto saiba que elas lhe são superiores, vive de mentir para si mesma, angustiada, alimentando sentimentos de inveja, e de ódio, que lhe corrói a alma, tratando-se como pessoa injustiçada porque desprovida de inteligência equivalente à das outras com as quais compara-se, e deseja, ocultando de si e de todos tal desejo, destruí-las, para se apresentar como superior, e para tanto só com a destruição daquelas que lhe são superiores poderá vender de si a imagem de superioridade. É amargurada, angustiada, invejosa. Vive um mundo de fingimento, e apresenta-se como vítima de injustiças. E quer a destruição daquelas que lhe são superiores, e delas jamais reconhece os méritos. E nesta vida de angústia e amargura, persuadida de que é uma injustiçada, uma vítima, vítima do quê ela mesma não sabe dizer, revolta-se contra a sociedade, contra a civilização, contra a natureza, contra a vida, contra Deus. É tal pessoa aquela que preenche os esquadrões revolucionários políticos, auto-destrutivos e destrutivos, anárquicos e niilistas, pessimistas e céticos. Alimenta um ódio profundo, visceral, pelas pessoas que, segundo ela, não lhe reconhecem a superioridade, superioridade que, ela mesmo sabe, inexiste, mas que em seu orgulho dela ela se diz possuidora. O mundo tem, acredita ela, de reconhecer-lhe a superioridade; se não lha reconhece é injusto, portanto, inimigo, e merece ser aniquilado. Tal pessoa, frustrada, faz um alto conceito de si mesma, e as outras pessoas a ela não dando o mérito que ela diz merecer pela superioridade que ela diz possuir, têm, então, de serem excluídas da convivência social.

Ilustre Desconhecido
Enviado por Ilustre Desconhecido em 22/04/2019
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