O príncipe encantado.

Se conheceram e a paixão veio avassaladora, casaram-se rapidamente e decidiram não ter filhos para poderem se curtir. Após o abrandar da paixão, o relacionamento entrou na fase da acomodação, e após a acomodação, veio o triste terreno da irritação. Ele falava, ela se irritava. Ela falava, ele resmungava.

Ela, cansada, mas incapaz e insegura para buscar a separação, resolveu dar vazão as suas carências afetivas buscando na relação extra conjugal a salvação, a felicidade, enfim, a alma gêmea.

Escondida, como é comum nos relacionamentos clandestinos, engatou namoro protegida pelo anonimato proveniente de site de relacionamentos. Carente, se emocionava com as palavras bonitas e carregadas de sentimento que escrevia seu príncipe encantado virtual. Estava feliz, achara sua alma gêmea, em poucos dias o conheceria pessoalmente e colocaria fim naquele malfadado casamento.

O encontro foi marcado, a sorte estava lançada. Ansiosa para conhecer seu amor, rumou para o local e quase desmaiou quando viu que seu príncipe encantado virtual, o homem sensível que escrevia palavras de paixão e esperança de uma vida melhor, era nada mais nada menos que seu próprio marido...

O caso é real, caro leitor, aconteceu há algumas semanas na Europa, e diante disso, a reflexão se faz inevitável. Muitos casamentos são construídos quando o casal está empolgado pela paixão, e levados pelo instinto, consideram terem encontrado o amor de suas vidas. Desiludem-se rapidamente com o abrandar do sentimento que julgavam ser amor eterno, nessa época o relacionamento entra na fase da acomodação, e após a acomodação, vem a irritação. Um não pode escutar a voz do outro, tudo é motivo para brigas e discussões. A carência afetiva abre brechas no coração e... a busca pelo príncipe ou princesa os faz mergulhar no adultério, onde encontrarão dor e sofrimento.

Oportuno lembrar, para nosso próprio bem, que todos somos seres humanos com virtudes e limitações inerentes á condição de criaturas em aprendizado. Não existem príncipes encantados, almas gêmeas que nos levarão aos cumes da felicidade e realização, porque nossa felicidade não depende de outrem, mas de nós mesmos, da forma como lidamos com nossos relacionamentos e resolvemos nossas pendências de ordem emocional ou não.

Se não regarmos com as sementes da compreensão nossos relacionamentos afetivos, engataremos muitas relações infrutíferas, acumulando frustrações em desencontros proporcionados pela busca vã do par ideal, da criatura perfeita, da alma gêmea...

Wellington Balbo
Enviado por Wellington Balbo em 26/09/2007
Código do texto: T669661