PESSOAS E COISAS

Demétrio Sena - Magé

Meu preconceito começa quando o coração e a falácia determinam que o que tenho é (pura e simplesmente) porque mereço, "Deus me ajudou" ou sou esforçado; inteligente. Aí me faltam olhos profundos para ver e analisar questões como situação e momento favoráveis... auxilio externo, herança total ou parcial... tino empreendedor - ou não - e similares... o que não exclui a necessidade óbvia do esforço.

Pensar desse jeito enviesado me faria invejar quem tem mais posses do que eu, por esse alguém ter mais méritos pessoais, preferência divina e ser mais "esforçado"; inteligente; mais empreendedor ou ambicioso. Ao mesmo tempo me faria olhar para um morador de rua, por exemplo, como se ele alguém que não merece nada... que "Deus" nem sabe que existe e não passa de um parasita; um indivíduo acomodado.

As desigualdades sociais não fazem as pessoas sofrerem apenas por comparações materiais. Trata-se, também, de comparações estruturais que ferem a dignidade humana quando classificam valores pessoais conforme posses, cargos, conquistas. Há pessoas muito pobres, apesar de talentosas, esforçadas, inteligentes e trabalhadoras, que não têm status e bens. Algumas vezes, porque não é mesmo prioridade ou ambição neste contexto.

Quem prioriza conquistas materiais e ascenção social acima dos valores humanos, não é feliz, ainda que realize grandes sonhos. Não é, porque nunca se sentirá invejado como deseja e sempre terá inveja de quem alcançou além, ainda que o além seja menos, porém de maior significado. Por mais que desejem coisas, as pessoas têm ambições internas que sequer conhecem... e as coisas não substituem nossas carências íntimas.

Demétrio Sena
Enviado por Demétrio Sena em 22/02/2021
Código do texto: T7190410
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