Com cuidados não abrirei mão de te proteger

Com cuidados não abrirei mão de te proteger

Luiz Alberto Silveira

Frequentemente interferimos na vida ou nas relações de nossos filhos, familiares e amigos diletos (adultos) sob o pretexto de protegê-los, ajudá-los, cuidá-los, mostrar caminhos, sugerir condutas, evitar problemas...

Analisamos suas vidas e comportamentos (sob nossa ótica) e nos julgamos obrigados a mostrar que nos preocupamos por eles. Sob estes pretextos “entramos porta a dentro” de suas vidas e começamos com o “você deve fazer assim”, “deste jeito não”, “não sejas tolo”, “isto está errado”, “faça como eu”, “na minha experiência”, “você tem que gostar disto, daquilo” etc.

Não observamos o sinal vermelho nem o amarelo, entramos direto com a garantia de que temos o sinal verde para opinar sobre tudo e todos.

E sem querer, perceber ou imaginar, geramos o início de um afastamento, principalmente quando do outro lado encontra-se pessoas próximas. Coisas que nos fazem bem têm que ser boas para os demais também (achamos). Nossa (caridosa) ação gera momentos delicados quando interferimos na educação e comportamento dos netos, na escolha da namorada ou namorado dos filhos, nas relações de trabalho e da intimidade de pessoas e casais. Para não nos magoarem ou por não tolerarem mais as invasões afastam-se, restringem-se, silenciam para não ouvirem possíveis conselhos, isso quando não cortam o relacionamento.

Muitas coisas que desejamos aos outros são nossas fantasias. Entretanto, outras vezes, por insegurança, para segurança, por necessidade (e com alegria deles), nossa participação em suas vidas é muito bem-vinda e desejada. O segredo é ter a certeza e a nítida percepção de que isto está ocorrendo, olhando-os e não somente olhando o quão bons achamos que estamos sendo. Se isto não for claramente observado teremos os filhos que não visitam os pais, a nora ou o genro que não leva os netos para visitar os avós, a resistência à participação em uma festa de família ou de amigos, a dificuldade em programar uma viagem conjunta e tantas outras situações decorrentes das “bioquímicas cerebrais” e afetivas que não combinam em decorrência de uma questão mal formulada, uma palavra, um gesto e uma ação inoportunos. Saber quando agir e quando parar de agir é o segredo.

Isto implica em amadurecimento, sensatez, percepção lógica e afetiva coerentes, autoconhecimento, humildade, sentido de limites da liberdade e enorme senso de coesão afetiva. Dar a vida ao outro não significa desejar que o outro a viva como queremos. Oferecer sugestões e ideias não significa intrometer-se e exigi-las; mostrar o que achamos ser bom não significa impor que ocorram. Quero te dizer: posso mostrar que tal atitude faz mal mas quem tem que evitá-la és tu. Sobre teus relacionamentos direi o que penso com muito cuidado e carinho, mas quem os escolhe és tu; sobre a segurança que te desejo só peço que te protejas (por mim).

Agora quero que saibas: rezarei eternamente por ti e por ti meu amor será cuidadoso e único. Disto não me faças abrir mão, porque não o farei.