ILHA BELA

Ilhabela

Celisa Diniz Corrêa

São Paulo, 12 de setembro de 1952

Ainda guardo na retina a imagem do lugar mais lindo que já

vi. Ao divisar essa natureza forte e luxuriante, meu coração

pulsou mais forte e minha alma se encheu de emoção. Senti-me

pequenina ante a beleza desse painel colorido, pintado pela

mão de mestre da natureza, Ilhabela! Ninguém jamais poderá

descrever com palavras todo o encanto agreste daquelas

praias, daquele mar azul e límpido, das árvores cujas folhas

vão do verde desmaiado até o marrom escuro. O céu escampo,

desce suave sobre as montanhas cobertas de vegetação

brilhante. A vila é pequenina mas bem situada. Cada fazenda a

beira-mar é um cromo. Ainda há na Fazenda Engenho d'Água uma

casa grande junto a senzala, lembrança da época dos escravos

que lá trabalharam, plantando café e cana-de-açúcar nos

morros. A nota característica da região é o caiçara,

desconfiado e astuto, calças arregaçadas, chapéu de

palha, face tisnada e cheia de rugas grossas, mas sempre

alegre e jovial. A igreja é histórica, foi construída pelos

negros escravos com pedra e óleo de baleia, possui imagens

e lustres de cristal com mais de cem anos. No altar-mór, Nossa

Senhora da Ajuda, a padroeira, vela pelo destino daquele povo

humilde. As praias ao nascer do sol é indescritível! Os raios

solares se escoam por entre os coqueiros e vão mergulhar no

mar, pondo n'água refulgência de prata, ouro e rubi. O findar

do dia é uma apoteose de luz e sombra que nos deixa na

imobilidade de um êxtase. Quase na ponta norte da ilha está

situada a praia de Garapocaia, a mais linda praia de

Ilhabela, as pedras do sino atraem os turistas que se admiram

das sonoridades que elas emitem. Mais para a frente está a

fazenda Ponta das Canas, do seu farol pode-se divisar todo o

canal, São Sebastião e Caraguatatuba do outro lado.

Enfim, quem viu aquele recanto maravilhoso e edênico, nunca

mais esquecerá. Ilhabela entontece os sentidos, a

sensibilidade, como a pinga que suas destilarias produzem

entontece o cérebro dos caiçaras. As ilhas dos mares do

sul, que tanto admiramos nos filmes, serão talvez pálidas

imagens ante a beleza infinita de Ilhabela, um pedaço do

Brasil que inspirou ao poeta do mar -- Martins

Fontes -- estes belos versos:

Vens de Vila Bela do montão de trigo

Vais a Cananéia, vais ao Caraguatá?

Venhas de onde vieres, com prazer te sigo.

Vás para onde fores,tu comigo irás

É que em toda costa paulistanamente

Há uma só família, de tão boa gente

Que em qualquer momento teu irmão sou eu...

Sem saber teu nome, dou-te o meu afeto

E, no comunismo do meu pobre teto,

A farinha é tua, todo peixe é teu.