JAIRZINHO, O FURACÃO DO BOTAFOGO

Imagina se você é zagueiro e tem que enfrentar no dia seguinte um atacante que é forte como um touro, veloz como um leopardo, muito inteligente e tem um faro de gol como poucos? É certo que você não vai conseguir dormir à noite. E se conseguir, terá pesadelos grandes.

Era assim a rotina dos zagueiros do futebol brasileiro (e às vezes do futebol mundial) nos anos 60 e 70 do século passado quando tinham que enfrentar o Botafogo. O terror dos zagueiros vestia a histórica camisa 7 e tinha nome e sobrenome: Jair Ventura Filho. Mais conhecido como Jairzinho. Ou Furacão (apelido que ganhou após a Copa do Mundo de 1970).

Jairzinho, que nasceu em 1944, teve uma missão nada simples no Botafogo: substituir o maior ídolo da história do clube, o mito Mané Garrincha. Era uma pressão absurda para um garoto de seus 20 anos, vestir a mesma camisa que um herói consagrado, que havia acabado de vencer duas Copas do Mundo pela seleção, sendo na última, inclusive, o craque máximo, além de artilheiro. Garrincha foi o gênio que colocou o Botafogo no mapa do futebol mundial, rivalizando com o Santos de Pelé, e batendo rivais europeus como Real Madrid, Juventus, Barcelona.

Qualquer garoto iria sentir a pressão e tremer. Era o natural. Mas Jairzinho não era qualquer garoto. Sempre foi valente, destemido e sabia que possuía dois super poderes: talento e força mental, ambos em grandes quantidades. Sabia que nada iria pará-lo. Era só fazer o que estava destinado a fazer: jogadas decisivas, gols, vencer adversários, derrotar goleiros. Era seguir o plano e garantir o final feliz. E assim foi.

Com a gloriosa camisa alvinegra, Jairzinho marcou incríveis 189 gols em 412 jogos. Mais do que gols, conquistou títulos importantes. O bi-campeonato Carioca (1967-68), o Rio-São Paulo em 1964 e 66 e o primeiro título brasileiro do Fogão, a Taça Brasil de 1968. Na época, todas essas competições tinham um grau de dificuldade muito grande, já que os grandes craques do futebol brasileiro (que eram os melhores do mundo) jogavam no país. Basta lembrar que Pelé, Rivellino, Gerson, Tostão, entre outros atuavam pelos clubes brasileiros.

Nessa época os clubes brasileiros realizam excursões de até dois meses pela Europa, disputando torneios e amistosos contra os maiores times da Itália, Espanha, Inglaterra, Alemanha e Portugal. Não foi diferente com o Botafogo de Jairzinho.

Enfrentando os grandes clubes da época, campeões de seus países, e até seleções europeias, o Botafogo de Jairzinho desfilava seu futebol de gala, com vitórias históricas e gols que deixaram alguns jornalistas do Velho Continente bastante encantados.

Talvez o grande momento de Jairzinho com a camisa 7 do Botafogo foi no dia 15 de novembro de 1972, no Campeonato Brasileiro. Era dia de aniversário de 77 anos do maior rival, o Flamengo. Maracanã, clássico, estádio cheio e muita expectativa. Jairzinho faz chover em campo, come a bola. Marca três gols, inclusive um de letra. Ao final, o placar marcava 6 a 0 para o Botafogo, um dia histórico, uma goleada que jamais será esquecida tanto pelos botafoguenses como pelos flamenguistas. Jairzinho sai aplaudido de pé pela torcida. A glória suprema.

Em 1970, na Copa do Mundo do México, Jairzinho foi apelidado de “O furacão da Copa”, por ser o artilheiro com 7 gols, sendo o primeiro jogador a marcar gol em todos os jogos de uma Copa do Mundo. Algo que nunca foi repetido. Brilhar e ser destaque num time que tinha Pelé, Rivellino, Gerson e Tostão, é algo para um fenômeno. E ainda por cima, o Brasil conquistou a taça, e foi considerado o melhor time de todos os tempos do futebol mundial.

Jairzinho rodou por diversos times no Brasil, na França, na Bolívia, no Equador. Chegou a vencer a Libertadores da América pelo Cruzeiro, em 1976. Mas fez questão de encerrar a carreira no Botafogo, em 1982, aos 37 anos.

É tão ídolo do Botafogo que ganhou estátua na frente do estádio Nilton Santos, uma glória que jamais será apagada da história do clube de General Severiano. Parece coisa do destino: quando adolescente morava bem próximo à sede do clube, na rua General Severiano. Parece que já estava escrito.

Pode passar 100, 200 anos, que a história que Jairzinho construiu no Botafogo e na seleção brasileira não será apagada. É um legado eterno, de um craque daqueles que surgem de tempos em tempos, como um cometa. Um raro exemplo de um jogador que consegue ser ao mesmo tempo um fazedor de gols apetitoso e um atacante de técnica refinada e força física absurda. Sua maior façanha foi ser um cara acima da média em uma época que havia dezenas de jogadores acima da média no Brasil.

Anderson Alcântara
Enviado por Anderson Alcântara em 21/06/2022
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