A culpa é do Governo.

Vive-se hoje num mundo onde todos são culpados e a culpa, no final, é de ninguém. Redimir-se perante a sociedade é algo insólito e quase extinto na população brasileira. Talvez porque culturalmente seja taxado de algo sem expurgo a auto-impetração de culpa, note-se que não está sendo levado em conta o dolo.

Tudo começa no aconchego do lar, onde o rebento é tratado sem regalias, a pobre família não tem condição de satisfazer suas necessidades. Sem o apoio e o aconchego maternal a criança cresce, quando chega sua adolescência, a mãe exige o direito de obediência outrora esquecido de doutrinar. Sem entender o real objetivo de uma escola, esse infeliz jovem entra no submundo da ilicitude. Nessa escola da vida aprende que aqui ‘mano’ é cada um por si e a República é ‘para todos’. No ato concreto de sua alfabetização é julgado por crime hediondo e a culpa é do Governo.

Aprendi, certa vez, uma frase que repetidamente ecoa aos meus ouvidos: “Todo país tem o Governo que merece.” Não obstante as dificuldades de acesso à informação em sua forma pura e teórica de ser, percebemos uma certa inércia social que assola o País como a Peste Negra em tempos remotos. Somos dizimados intelectualmente e não damos conta disso.

Na atual sociedade capitalista, a educação dos filhos se tornou de difícil conciliação com a exploração trabalhista. Jornadas infindáveis nos metrôs temporais, ponteiros dos relógios a mil por hora: cansaço! O aconchego do lar vira sinônimo de banho e cama. Na correria da vida, filhos são colocados no mundo e a educação é terceirizada.

Quem teve sabe como é bom lembrar de momentos em que fomos agraciados com as explicações de nossos pais dos infindáveis ‘por ques’ que repetíamos sem parar. Atitudes tão simples como essa tem se tornado muito raras na sociedade, principalmente em grandes capitais onde o filho já nasce e mora em maternidade, depois escolinha, depois colégio, depois faculdade, depois cadê meus pais?

Acorda! É a palavra guia para todos os pais. Não adianta viver na omissão e depois que o filho se torna algo repugnável para a sociedade reclamar que a culpa é do governo e sair espalhando boatos infundados de que a sociedade vai mal apenas porque o governo não está se importando com a educação do país.

É fato que falta muito investimento do governo brasileiro em educação. Mas aqui cabe uma pergunta: será que o dinheiro resolveria o problema da ausência materna e paterna na educação dos filhos? Acredito que não. Dessa forma, se a vontade é de fazer o país melhorar, agora é a hora de arregaçar as mangas e cuidar de quem está perto de nós, se não tem filhos, ajude quem tem. Faça sua parte, depois cobre dos outros, do governo ou de quem quer que queira.