A Expulsão do Paraíso

Qual o mistério da transição entre a infância e a idade adulta? Por que a criança deixa de ser o super-homem do imaginário infantil para ver-se desprovida de seus poderes e do domínio sobre todas as situações?

O mundo da criança é o paraíso dos homens. Ali não há sofrimento pela inexistência do entendimento sobre a realidade; de obrigações e responsabilidades. Em sua incipiente inteligência, tudo se resume na recordação e na imaginação; decora o que lhe é ensinado sem chegar a entender; imagina o Universo que lhe pertence e é feliz. Para ela tudo é simples e fácil. Sua natureza super-humana acompanha-a sempre, suprindo a falta de recursos de sua inteligência em desenvolvimento, protegendo-a em casos de perigo iminente e fazendo-a sorrir em seus sonhos encantados.

Ao entrar na adolescência, o paraíso gradativamente se desvanece. O impulso genético transforma o seu corpo e a sua alma; aquele mundo encantado vai ficando distante; começa a entender o mundo e a desentender-se consigo mesma. O paraíso perdido transforma-se numa remota recordação.

Ao recobrar seu equilíbrio emocional — em plena juventude —,daqueles ditosos dias da infância resta muito pouco.

Qual o significado desta experiência de vida pela qual todos passam? Por que esta queda das alturas do paraíso para um mundo incompreensivelmente materializado e cheio de problemas?

Existe a possibilidade de se reconstruir este mundo como uma exigência da evolução — estratégia divina que permite ao ser humano fazer renascer a criança e ressurgir o paraíso perdido, através da organização e conhecimento de seu mundo interior.

Uma eficiente pedagogia deveria ser capaz de orientar as crianças a transitar do paraíso da infância até a realidade do mundo dos homens sem experimentar os desvios que podem levá-las à delinqüência, ao vício ou à loucura. Deixar o paraíso sabendo que um dia poderão retornar, guardando dentro de si a criança, para que renasça no futuro.

Uma nova pedagogia requer a reeducação dos adultos que terão a seu cargo a instrução da humanidade do futuro. O que tem sido prática corrente na educação infantil deve ser revisto. Os sistemas de instrução não têm funcionado convenientemente. Instrui-se para tudo, menos para o que mais interessa: a convivência pacífica do indivíduo consigo e com os outros seres humanos, seus irmãos

A humanidade está dividida em raças, religiões, camadas sociais, culturais, partidos políticos. Os sistemas pedagógicos são divisionais, separatistas. Cada agrupamento arvora-se como dono absoluto da verdade. Não compreende que a verdade surge da união dos seres humanos, pela compreensão fragmentada da grande realidade universal da qual todos formam parte.

Às crianças ensina-se que devem ser as melhores em tudo o que fazem; melhores que as outras. Inocula-se o nocivo e maligno vírus do separatismo, de uma pseudossuperioridade; a ilusão da felicidade alcançada quando se chegar a ser melhor do que os outros.

Na pedagogia da Escola do Futuro, as crianças serão instruídas no sentido de serem melhores que elas mesmas; que o aperfeiçoamento pessoal tenha um cunho essencialmente humanista: ser melhor sendo mais útil para si e para os semelhantes; conviver harmonicamente.

O amor ao próximo deixará de ser uma figura de retórica para representar a compreensão cabal de um fragmento da Grande Verdade e será vivenciado, experimentado e não apenas discursado.

Sem entendimento não há compreensão. Sem compreensão não há realização. Sem realização, os homens seguirão inimigos de si mesmos; filhos deserdados de um Criador que não chegaram a compreender.

Nagib Anderáos Neto