A revelação à frente do espelho significa a despersonificação, a falta de identidade e talvez, um desencontro da alma, único abrigo legítimo de nossos anseios e segredos, protegida da podridão do mundo. Mas as almas da época já não eram puras e se fartavam de ignorância em uma terra que tudo valia, só não valia ser sério e tentar resgatar a verdadeira alma, ou trabalhar por um futuro melhor.
O espelho, que retratou Jacobina nos trajes milicianos faz alusão a uma cena do filme “Desmundo”, da poeta e romancista cearense Ana Maria Nóbrega Miranda, que postula a certeza do que existe e os devaneios do que podemos imaginar na pura fantasia dos acontecimentos.
Para um filósofo iluminista, a máxima do existencialismo pessoal. Para Machado, a lógica dos reflexos de uma transição mal planejada que conduziu parte do povo a uma utopia banhada nas ervas mais tóxicas da ainda mal explorada América do Sul.
Uma espécie de condução ao mundo projetado pela mente que não poderia ser moldado nas mãos do destino brasileiro. Isso, vislumbro perfeitamente, quando me lembro da parte do texto em que o espelho reflete vapores e sensações e mal deixa Jacobina entender sua própria silhueta.
A inexistência de um trabalho coerente desde o princípio no tocante a valorização do território foi talvez o ponto crucial para tanto retardamento no progresso econômico e social do Brasil.
Basta dizer que só tomamos consciência de que havíamos nos despojado da máscara colonial apenas no início do século XX, quando começamos a ter conhecimento dos acontecimentos revolucionários que já movimentavam uma Europa banhada de salutar literatura e conscientes mentes revolucionárias esbanjando manifestos e conferências, como as acontecidas em Lisboa, em 1871.
O Brasil, também esbanja cultura, porém, que se confunde em um contraste de erudição e intelectualidade. Não há que se falar em interacionismo em um país que mal aprendeu a entender o que significa realmente a exclusão social.
Como educadores, tomamos sempre como exemplo as salas de aulas em todo o Brasil, e nos centramos em uma visão neo-socialista procurando trazer à realidade, a mente de crianças que sentam no banco escolar desnutridas de conhecimento. Procuramos assim trabalhar uma política de interação social, mas nos esquecemos que o tempo escolar é curto demais para ensiná-los a conviver com o enorme problema que realmente enfrentam; não me refiro aqui a exclusão social, ao racismo ou a tantos outros descompassos culturais, que são frutos de choques do discernimento pessoal, mas sim ao problema de aceitação familiar, palco onde deveriam acontecer as primeiras mudanças de comportamento social.
Para finalizar, e sei que divaguei um pouco, mas sinto-me aliviado por poder contribuir com as minhas idéias; afinal, também sou responsável por algum tipo de desequilíbrio na estrutura social brasileira, vou procurar enxugar a minha conclusão com uma das teorias deixadas pelo filósofo francês Henri-Louis Bérgson (1859-1941). Diz mais ou menos assim:
“Você pode estudar todo o mapa da cidade de Paris, rua por rua, bairro por bairro, todas as suas relíquias, construções famosas; e fazê-lo por dez anos consecutivos, mas quando sair a campo, ainda sim, com toda a teoria adquirida e o seu construto de idéias formuladas, não será mais eficiente do que aquele que andou por vinte minutos por paris; que viveu uma experiência de percepção”.
A vivência é a base para todos nós educadores. E é por isso que precisamos estar presentes, estimulando os alunos com as nossas próprias vivências.
O Guardião
Enviado por O Guardião em 10/01/2008
Reeditado em 10/01/2008
Código do texto: T810899