POST IT - VAGUIDÕES INESPECÍFICAS

“Algo só é impossível até que alguém duvide e prove o contrário.” (Albert Einstein, 1879-1955)

Não foi o sonho que levou o homem à Lua, mas o que se seguiu a ele. O sonho despertou nas pessoas o sentimento de crença na capacidade para realizar e vencer desafios. “Livre pensar, é só pensar”, dizia Millôr Fernandes. Pensemos, pois.

No reino da Natureza, considerando as imensidões infinitas dos opostos, tudo parece tender a correlacionar-se como se num sistema fechado, pudesse essa concepção ser acolhida nos “limites nas bordas inalcançáveis do insondável infinito”.

Durante breve curso em 1989 no “head quarter” da IBM, em White Plains, NY, quando a Teoria dos Fractais foi demonstrada e utilizada para aplicações nos algoritmos dos DB Relacionais, imaginei, com ou sem razão para tanto, apenas imaginei numa “viagem prospectiva mental extensiva”, que no infinito universo dos fractais tudo se convergiria de tal modo em um só fator primário em unicidade que fugiria do contexto das equações de Issac Newton, mais apropriadas à compreensão humana dos fenômenos naturais no exercício da atávica busca de outras respostas, precisas, para entender a existência na linha racional das causas, feito e efeitos. São indagações e desafios recorrentes que desde o princípio dos tempos nos mantém em estado de perplexidade diante dos inexplicáveis, crescentes e misteriosos fenômenos da natureza.

É nesse universo que orbita a curiosidade.

Nos limites de nossas percepções tudo surge, expande e se extingue inexoravelmente. Foi Antoine Lavoisier (1743-1794) que acenou com alguma luz para nos proporcionar algum breve alívio dessas angústias filosóficas, metafísicas e indecifráveis. É possivelmente desse determinismo inato, ao formular experimentações no contexto do sub-reino da química, que surge a sentença supostamente definitiva: “Na Natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. Mas e o início? Haveria ou “o tudo” sempre existiu dispensando o fator da criação em algum ponto do tempo e do espaço?

Daí, abstraindo do rigor determinístico que comprovaria “O Universo Conhecido”, é possível supor haver outros arranjos que considerem como provável o caráter caótico do Universo, dar asas à imaginação, ceder às tentações das curiosidades. Divagar é necessário ato incontornável, contudo não preciso.

“Não devemos nos sentirmos desencorajados pela dificuldade de interpretar a vida a partir das leis comuns da física.” (Erwin Schrödinger, 1943)

Não custa imaginar o que nos aflora do complexo agrupamento das Teorias Quântica e da Relatividade (na visão de Karl Popper, probabilísticas), as quais poderiam constituir-se em sementes de janelas iniciais para abrir portas que nos conduzam, ainda que no plano das articulações mentais das fantasias e das divagações -- aqui incluídas as “viagens experimentais psicodélicas” de Aldous Huxley (As Portas da Percepção, 1954; e Céu e Inferno, 1956) --, a pelo menos alguma mera expectativa, sabidamente inalcançável, para compor a utopia de decifrar indagações que nunca serão respondidas, porquanto respostas não há.

Como propus na epígrafe, são indagações inespecíficas, meras “batidas na porta da frente, é o tempo que bebo um pouquinho pra ter argumento. (*)”

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(26/06/1998)

*Trecho da canção Resposta ao Tempo, de Aldir Blanc.