A INFLUÊNCIA DAS NOVELAS NO COTIDIANO

As novelas, presentes no cotidiano da maioria das famílias brasileiras, são um reflexo da vida perfeita, em que todos os sonhos são realizados de acordo com o desejo do telespectador. O conceito de serem consideradas programas basicamente femininos, em virtude da maior propensão do “sexo frágil” à emotividade, ilusão e identificação com as personagens, encontra-se ultrapassado, visto que grande parte do público masculino também já se rendeu a esse fenômeno de audiência que invade as telinhas todas as noites.

O ritmo de vida passou a ser regulado por meio das novelas, os hábitos pessoais, os afazeres realizados em horários que não interfiram na perda da continuidade da trama. A passagem dos meses e anos tornou-se mais nítida, as futuras gerações ensaiam os primeiros passos influenciadas pelo mundo da fantasia, a moda e a linguagem ditam as tendências para os adolescentes, a música enriquece as indústrias fonográficas e promovem o sucesso do artista. As mudanças comportamentais geram opiniões bastante conflitivas em relação aos críticos, sociólogos e psicólogos. Até que ponto as influências trazem benefícios aos telespectadores e à sociedade em geral?

Diante de uma vida repleta de dificuldades, o fiel telespectador, principalmente aquele que não dispõe de nível cultural privilegiado, refugia-se nas estórias de entretenimento como forma de atenuar ou esquecer os problemas do dia a dia. As idealizações propostas pelo roteiro em relação aos personagens acabam fazendo parte de seus sonhos e fantasias. Ao identificar-se com determinado personagem, o telespectador acaba adotando certos atributos e estilos peculiares à vida fictícia do mesmo, esquecendo-se que o ator apenas representa um papel, e as características em comum entre sua vida real e a representação, na maioria das vezes, não existem. Essa atitude de identificação pode ser prejudicial, mas acabou se tornando inevitável. O risco de se decepcionar com as ações de um ídolo pode gerar conseqüências desagradáveis no decorrer da vida do telespectador, até que o mesmo se identifique com um novo personagem, dando continuidade ao vicioso ciclo imposto pela teledramaturgia.

Por outro lado, é compreensível que haja tanta afinidade com a novela como acontece, não somente no Brasil, mas em todo o mundo. Vista apenas sob a ótica do lazer, sem a preocupação de modificar o comportamento do telespectador, as tramas têm um poder de entretenimento absolutamente incontestável. As emissoras investem cada vez maiores quantias, apostando numa programação de alto retorno de audiência e, consequentemente, financeiro. Os horários em que são apresentadas, rotulados como “nobres”, tornaram-se uma grande opção de divulgação de mercadorias e serviços por parte dos anunciantes, e o retorno é sempre satisfatório em virtude dos anúncios atingirem um grande público.

Embora muitos critiquem a postura das novelas e das próprias emissoras que as exibem, por transformar de forma negativa a vida do telespectador, temos que admitir que as mesmas constituem a primeira opção de entretenimento diante da televisão. Tentem tirá-las do ar somente para ver o que acontece. Acredito que estaríamos prestes a uma manifestação em massa contra a emissora e ao órgão que assim procedesse. E, depois de um dia de luta de um povo sofrido como o brasileiro, o mesmo tem direito de realizar suas fantasias da forma que julgar conveniente.

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JDM