A perda da tranqüilidade

Todos já devem ter ouvido falar no ditado: “Leve como o sono dos justos”, lembro deste aforismo popular por me encontrar em uma situação de conflito, a situação de ser justo e não ter sono. Não tenho mais sono porque perdi totalmente a tranqüilidade do meu direito de ir e vir com integridade física e psicológica, pois o bairro em que resido em São Leopoldo (Cristo Rei) tornou-se um shopping center para assaltantes. Só em minha rua (Germano Hauschild), em um breve espaço de tempo, roubaram cinco automóveis, invadiram inúmeras casas, construções, efetuaram incontáveis assaltos principalmente a estudantes que voltam à noite da Unisinos, etc. Se eu ficar elencando os casos concretos de violência urbana que ocorre em meu bairro não haverá espaço no "jornal" para a conclusão deste artigo.

Entendo que a sociedade funciona como uma engrenagem de complexa compreensão. Uma engrenagem torta e disforme que apresenta incomensuráveis mazelas sociais, uma vez que a sociedade permite a exclusão de indivíduos, condiciona o descrédito nas instituições públicas e a impunidade de agentes corruptores em todos os setores, tanto no público como no privado.

Entendia há um tempo atrás que todo o indivíduo deveria ser merecedor de meu respeito e da minha tolerância, contudo, como posso ter respeito e tolerância por aquele que me ameaça? Como posso contar com uma segurança pública que não me protege? Como devo interpretar um texto constitucional garantidor do meu direito de ir e vir que não se efetiva empiricamente? Devo concordar com Eugênio Raul Zaffaroni – intelectual jurídico argentino – que diz que a constituição é uma declaração de intenções?

Entendo, pois, que existem vítimas fruto da exclusão social, ocorre, porém, -graças ao déficit educacional do pais- que muitos indivíduos se marginalizam arrimados nesta situação de excluído, ignorando possibilidades honestas de ascensão, pois a criminalidade é a possibilidade torpe de dinheiro fácil. Dinheiro que, na maioria das vezes, vem de uma classe que trabalha de domingo à domingo, de uma classe que não pode pagar por segurança privada, por seguro de casa, de carro, etc. Uma classe que trabalha, estuda e que paga em dia os seus impostos governamentais e que em troca não vê os seus direitos garantidos. Falo da classe média, classe que adquire algum bem material com esforço para um vagabundo usurpar. Para um meliante usurpar mais do que um bem, usurpar a tranqüilidade, a paz, enfim o sono leve do cidadão de bem.

Pergunto: Quem vai recuperar a minha tranqüilidade e o meu sono??? Exijo, portanto, do meu país, do meu Estado e do meu município o meu sono de volta! Convido o leitor a fazer o mesmo, pois segurança é um direito constitucional.