A TUDO EU VEJO

A TUDO EU VEJO

Estive cansado.

Irremediavelmente exaurido.

Pela manhã,

Sentei-me sobre as pedras

Fiquei a ver a cidade.

As pessoas vão e vem, tão

Rápidas que, mal desaparecem,

Já despontam novamente:

Como são rápidas no viver!

Cá, de cima, posso ver a vida:

Ela não me atinge.

Para estar ileso, fiquei só.

Optei pelas pedras e céu.

Amei fulana

Mas fulana vivia às voltas com amigos

Festas, coca.

Como podia amar fulana

Se ela nunca estava consigo ?

Sentei-me, ah, sobre as pedras

Qual o eremita, a ver

As pessoas que se agitam.

O sol alongou, recolheu e

Por fim, carregou a sombra.

Eu, às rochas, achando-me

Inútil por não feliz

Junto a fulana em suas

Aspirações mirabolantes

Amigos cheios de cálculos

Traduções e literaturismos.

Eu, diverso deles, simples soldado

A ensarilhar armas

Sonhando com fulana feliz.

Ela, entre as estrelas do generalato

Com suas drogas de raiz

A seu modo, feliz.

Ah, fulana que atraque

em sonhos! Cá, nas pedras,

longe do colarinho e fraque,

abasteço-me de sonhos.

Vejo as pessoas aceleradas

Bastando-me isso para viver.

Sem que o dono delas perceba

Deixo as mãos fazerem poemas

Que escorregam pelas encostas

Terminando dentro da cidade

A qual vejo e mais me surpreende.

Ah, que inutilidade feliz!

Em cima, nada acontece

Que venha de quem me conhece

Ou de quem esqueci.

Estou à beira de tudo

E atiro olhares ao mundo.