Rosas Brancas

[Rosas Brancas]

[Memórias do chalé amarelo - Araguari - MG]

Junto ao velho muro de taipa avermelhada,

carcomido pelos látegos das chuvas,

com todo o cuidado e desvelo,

minha mãe fez o canteiro de rosas.

Esterco, casca de ovo moída,

terra afofada e bem regada;

e nada!

Por um capricho misterioso,

as roseiras encruadas, estéreis,

recusavam-se a nos dar as suas flores

para enfeitar nosso quintal.

Só uns poucos botões mirrados...

Ingratas roseiras!

Um dia, mudamos do velho chalé amarelo.

E então, quando já nem nos lembrávamos delas,

das roseiras encruadas,

soam batidas na porta da rua e...

Ei-las! Um lindo buquê de rosas brancas!

De onde vinham?! Ora... nem era preciso perguntar!

Pelas mãos de quem as trouxe, não havia dúvida,

eram de lá, do quintal do chalé amarelo!

Finalmente, as roseiras floresceram com gosto!

Mas floresceram pelas mãos de quem tantos espinhos

cravou na alma de minha mãe!

Com uma pontinha de despeito, ela as recolheu:

— Como são lindas!

Mas antes, não gostaram dos meus tratos!

As rosas, que tardiamente

agradeceram os cuidados recebidos,

agora, eram mensageiras de velhas mágoas!

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[Do meu livrinho "Araguaris(Narrativas Poéticas)"] - ilustrado por Paula Baggio