Até aquele momento não tinha feito nenhuma música em parceria com o Edyr. Logo ele que tinha sido o maior incentivador para que eu continuasse a compor. Tinha mostrado a ele o “Choro bom” em noventa e dois e estava verde como compositor já que fiz minha primeira letra no fim de noventa.
Até inicio de 1993 seis letras minhas, algumas em parceria, já tinham sido transformadas em música, mas nada do Edyr. Parece que ele também notou isso tanto que em janeiro daquele ano pediu-me que mostrasse a ele algumas letras de minha autoria onde ainda não houvesse sido colocada música por mim ou por um de meus parceiros. Mostrei umas dez, já que mesmo ainda receoso de musicar eu era razoavelmente profícuo em escrever letras.
Interessou-se bastante por uma letra em eu fazia uma comparação da gente do norte com o pessoal do sudeste, comparando maniçoba com feijoada, morro com baixada, barracão com casa alagada, batucada com carimbó, mas que o amor era sempre igual e que a nossa goma de tapioca conseguia gruda-lo no coração com a força de uma pororoca.
Pediu para levar consigo para ver se conseguia musicá-la.
GRUDANDO NO CORAÇÃO
(Edyr Proença e Almir Morisson)
A gente boa do Norte
É forte que nem cipó
Talvez a Virgem proteja
Só sei que nunca esta só
Meu povo em tudo tem ajuda
Mesmo quando a fome comparece
Mandií tem de montão
Mangueira é generosa
Manga se junta no chão
No Norte morro é baixada
Maniçoba, a feijoada
Barracão, casa alagada
Batucada é carimbó
Só o amor, a mesma coisa
Quando vai, que solidão
Saudade tem força de pororoca
Traz goma de tapioca
Pra grudar no coração
24/01/93 (letra do Almir)
27/11/93 (música do Edyr)
Passaram-se alguns meses e nada aconteceu. Pelo respeito que tinha ao Edyr não cobrei nada dele e acabei esquecendo.
Dia 27 de novembro, como costumo até hoje fazer no meu aniversário, reunia os amigos para comemorar a vida e naqueles meus 50 anos tive um dos meus melhores presentes. O Edyr trouxe musicado o “Grudando no coração”. Um samba espetacular. Todos gostaram tanto que no nosso primeiro CD (Clube do Camelo - 1995), foi uma das musicas escolhidas pelo grupo para compor o repertório.
Não sei por que das minhas perto de 180 músicas só tenho duas parcerias com o Edyr. A outra também com letra minha pedida por ele. Quem sabe o receio meu de oferecer gerasse a parcimônia dele em pedir mais letras. Talvez se hoje ele ainda estivesse entre nós teríamos mais.
O leitor poderá desfrutar-se a escutando no recantodasletras.com.br.