Há muito tempo, o vale era fértil, um lugar verde. A luz dourada do sol produzia gotas douradas com o orvalho deixado pela noite. O vento brincava com a folhagem da vegetação e os pássaros cantavam pelos bosques e pelos campos. Não havia doenças no vale, não havia pobreza, não havia guerra. Era o tempo que os homens acreditavam que podiam falar com os animais e que no bosque, as árvores eram espíritos sábios e antigos.
Mas eles nunca entenderam a felicidade que tinham. Então fizeram o ritual. Xavier, o bruxo, foi quem o executou. Queriam mais. Não queriam a paz, o amor e a alegria, desprezevam estes tesouros porque nunca deles sentiram falta. Então desejaram os metais brilhantes do coração das montanhas para preencher o vazio de suas almas sem fundo; as vastidões territoriais para seus olhos gananciosos; o controle sobre as almas para satisfazer seus egos deformados. Xavier os encheu de vazios, devastando o interior das pessoas. E depois espalhou vazio e sombras pelo mundo.
E pouco a pouco o verde foi deixando as terras dos nuvares. Os grandes vales viraram lamaçais tóxicos onde a ganância produziu crateras enormes em busca de minérios. Tempestades funestas de gases asfixiantes e água ácida estrangulavam as antigas florestas sagradas, quais criaturas monstruosas e sombrias a marcharem pelos céus. Uma lama preta e densa se estendeu pelo chão, as árvores se converteram em madeira podre, a gente dos vilarejos tornou-se lúgubre e fantasmas rasgavam o silêncio dos campos com gargalhadas maléficas todas as noites sob a densa e fétida neblina que emanava dos pântanos.
E todos se acostumaram. Em pouco tempo não lembravam mais dos fios dourados do amanhecer ou do sorriso das crianças. Seu mundo tornou-se uma triste canção de silêncio e dor.
Xavier, contudo, realizava sua cobiça. Tornara-se rei. Um soberano insano de um mundo de fantasmas. E seu povo ainda achava que com ele o mundo era melhor.
Wilde Green
Enviado por Wilde Green em 02/10/2020
Reeditado em 21/10/2020
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