FLAGRANTES DA VIDA REAL
 
Na esquina onde me sentei para olhar o mundo, passa um gato faminto, um cachorro sarnento e um moleque perebento. Um balão de gás sobe ao céu, enquanto uma boca se arreganha e chora um choro irritante de vogais nasaladas. A esquina se torce em cólicas – (menstruais?!) Cólica também sente o travesti caricato, que desceu do ônibus vindo do subúrbio e vai fazer ponto em frente ao Passeio Público, junto com as “putas pobres” que cobram o “trabalho” em VT ou VR. A esquina sorri, quando um pombo lança um “míssil” no ombro de mais desavisado que caminha buscando a sobra das árvores. O Homem Nu, olha de soslaio, quando a ninfeta passa retocando os lábios de “glóss” purpurinado. O fotografo (retratista oficial do Passeio), tem um novo cavalinho, atrelado a uma charretinha e atende a mulher gorda, vestida de verde limão, usando sapatilhas de plástico e baton rosa pink. A mulher  traz sua incontável prole de carinhas iguais para dar comida aos macacos, e tirar retrato para mandar aos avós. A pequena charrete fica com as rodinhas “arriadas” tamanho é o peso dos risonhos "carinhas de lua". No ar, o cheiro de pipoca com bacon gorduroso, atiça até mesmo os pombos que se juntam aos bandos esperando pelos grãos de milho que não estouraram e são jogados ainda quentes, quase atingindo os pés dos visitantes. Um grupo de “manos”, vestindo roupas cor de rosa e tênis com cadarços gigantescos,  se sentam na Ponte de Pedra , tomado “tubão” junto com as “manas” usando seus pompons brancos nos cabelos e falam um idioma ininteligível. Um bêbado ainda ressaqueado, caminha pela grama procurando um lugar tranqüilo para dormir. Do lado de fora, além das grades e do portal centenário, um pastor tenta inutilmente, chamar atenção dos transeuntes para a pregação das 18h. E lá no "Pasquale", o chope geladinho convida...mas todas as mesas estão ocupadas. Melhor mesmo é eu ficar só olhando a “tela” dantesca e ouvir os gemidos da esquina se dobrando de cólica.


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