O Enviado de Maria

         O ENVIADO DE MARIA

        O ano de mil e novecentos e cinqüenta e sete foi especialíssimo para a Paróquia do Sagrado Coração de Jesus de Brejo Santo. Ela, que desde mil e novecentos e quarenta e oito até este ano havia recebido como vigários cooperadores os sacerdotes: Rubens Gondim Lóssio (1948-1949), Luis Antônio dos Santos (1949-1951), Manoel Pereira Bezerra (1951-1956) e Nicodemos Benício Pinheiro (1956-1957), é agraciada com a vinda do novo vigário cooperador, o neo-sacerdote Pe. Dermival de Anchieta Gondim, oriundo da cidade do Jardim.

        É o início de uma nova era para a nossa paróquia. No dia nove do mês de março do ano citado, após uma grande chuva, aporta em nossa cidade um jovem motociclista que chama a atenção dos moradores, especialmente dos Srs. Lourenço Gomes e Valmir Alves, funcionários públicos municipais, que do antigo prédio do Paço Municipal observam o desembarque do visitante diante da casa paroquial. Desconfiam, os dois, ser este o novo vigário cooperador, pois já sabiam da possível vinda do mesmo.

        Imaginem que ele foi nomeado logo após a sua ordenação sacerdotal, ocorrida em 08/12/1956, dia da festa da sua madrinha, Imaculada Conceição, e também do seu aniversário natalício. E que o Sr Bispo, o Revmo D. Vicente, viajou deixando por um lapso, tal nomeação engavetada. Retornando da viagem, grande foi sua surpresa ao ver a nomeação ainda no Palácio Diocesano, sabendo que o Pe. Pedro necessitava de cooperador.

         Enquanto isso, o Pe. Dermival encontrava-se gozando férias, em sua cidade natal.Diante de tal situação o Sr. Bispo convoca o Pe. Dermival e o envia com urgência à Paróquia do Sagrado Coração de Jesus de Brejo Santo.

         Na véspera da sua vinda à nossa cidade, chove durante toda a noite, impossibilitando a passagem de carro nos rios ou riachos que transbordavam. Com seu espírito aventureiro e munido de sua obediência infalível, arrisca-se a vir, de Jardim a Brejo Santo, de motocicleta. A cada passagem de rio ou riacho, tanto ele, que não sabe nadar, como a motocicleta eram trasladados aos ombros das pessoas que trabalhavam nas roças ou observavam a enchente.A viagem durou de seis horas da manhã às três da tarde, aproximadamente.

        Após apresentar-se ao Revmo Pe. Pedro que o acolheu calorosamente e indicou-lhe o endereço da residência do vigário cooperador, ele, com seu jeito espontâneo e destemido, disse-lhe que fixaria morada na casa paroquial com o vigário e sua família. Ao ouvir do Pe. Pedro que ali só morava velhos e doidos, ele respondeu, com sua habitual naturalidade, que seria um doido a mais naquela casa. E ficou.

       Assumiu os trabalhos da paróquia e a tutela da família de Pe. Pedro, sendo a partir de então, o filho, o médico e, sobretudo, o seu melhor amigo até a sua morte.
Pe. Dermival arregaçou as mangas, iniciou o seu trabalho como pastor do seu rebanho como professor de educação religiosa do Colégio Pe. Viana e tornou-se amado por todos os paroquianos, especialmente pela sua maneira correta e responsável de enfrentar todas as situações na sua missão quotidiana.

A pontualidade, qualidade inexistente na maioria das pessoas do nosso país, é a sua marca registrada.

       Além do seu trabalho a frente da paróquia, sempre desenvolveu suas atividades, inicialmente com uma fábrica de mosaicos e depois como comerciante no ramo de madeira e, atendeu à população, especialmente aos pobres, na área de saúde. Por algum tempo foi proprietário da farmácia São Francisco, no bairro do mesmo nome.

       Embora o Pe. Dermival tenha o hábito de ausentar-se da paróquia por ocasião da festa da Imaculada Conceição, recordo-me que no dia oito de dezembro de mil e novecentos e cinqüenta e sete, nós paroquianos, tivemos a felicidade de tê-lo entre nós e de comemorarmos, com sessão solene, no prédio do Instituto Pe. Viana, os seus vinte e sete anos de idade; o seu primeiro aniversário natalício e sacerdotal, após a sua chegada à nossa terra.

        Pe. Pedro, devoto da Imaculada Conceição, foi presenteado, no dia da festa da mesma, por seu afilhado.

       Seria coincidência? Não. Acredito que Deusidência. Nosso Pai Celeste, com toda a sua sabedoria e amor, ouvindo a mediação do seu Filho Jesus, que certamente obedecia à intercessão da mãe, enviava o cirineu que ajudaria ao Pe. Pedro carregar sua cruz até o momento predestinado por Ele.

       Com a ida do Pe. Pedro ao céu, no dia três de janeiro do ano de mil e novecentos e setenta e três, o Pe. Dermival assumiu a paróquia como Vigário Ecônomo e até hoje se encontra entre nós como Pastor do rebanho da terra do Sagrado Coração de Jesus.


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