Lágrima

Quando uma lágrima insiste em surgir

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Não é olho de choro, não é choro, muitas vezes nem estamos tristes no momento, mas existe algo no olhar de quem tem tristezas embutidas no coração.

Tristezas ou preocupações, seja lá o que for, mas é aquilo que machuca, que dói, que insiste em voltar e aparecer em nosso semblante, tal como a lágrima. Há em todo olhar maduro uma lágrima emanada da alma.

Maturidade, neste caso, não tem a ver com amadurecimento emocional ou espiritual, talvez até o contrário, e sim, com tempo de vida (ou melhor, tempo de percalços na vida). Quanto mais se vive, mais se sofre... e o olhar vai estar lá pra provar isso.

Quantas vezes nós sorrimos a fim de sairmos bem em uma fotografia, não é? Disfarçamos rugas, escondemos o pensamento, camuflamos remorsos, ressentimentos remoídos, isso tudo através de um forçado sorriso (ou um inocente recurso de um sorriso), embora a fotografia denuncie o que vem atrás da imagem que queremos transmitir.

Muitas pessoas têm olhar de máquina fotográfica. Sim, são pessoas que ao nos olhar, mesmo que estejamos dando gargalhadas, vão dizer: "O que está contecendo contigo? O que você tem?". São delatores do que não queremos ver ou encarar, talvez até para a simples sobrevivência do corpo. São nossos espelhos e incomodam - nem sempre era a hora da denúncia do olhar...

A lágrima nos trai, ela é má - não a falsa lágrima teatral, mas a lágrima do coração. Ela não perdoa, surgindo voluptuosa ou tímida nos cantos caídos dos olhos, que viram tantos cantos, mesmo que cantos da boca tentem disfarçá-la.

A pessoa que tenta amadurecer tem os olhos molhados, ao contrário de quem apenas vive por viver e apenas chora, não aprende nada com a lágrima. Essas pessoas esgotam suas lágrimas e o olhar seca, como diziam nossos pais, ao chorarmos quando crianças: "Não chora que teu olho vai secar".

Cientificamente a lágrima é uma proteção para os olhos; serve para hidratar as estruturas do olhos, principalmente aquela camada transparente e fina que cobre os mesmos, a poderosa lente chamada córnea. Toda vez que existe uma agressão aos olhos, a lágrima aparece, mesmo que não queiramos chorar - o corpo se incumbe disso. Músculos muito inteligentes ao redor dos olhos apertam as glândulas lacrimais e lágrimas surgem.

Também choramos de raiva, de alegria, de susto, de nervoso, pois músculos da face em conjunto se contraem, e é isso que ocorre quando ficamos tensos, tristes e... pensamos. Pensar melancolicamente leva ao choro, pois estamos tensos de alguma forma, mesmo que tentemos relaxar.

É verdade que de tanto chorar o olho seca, sim, mas de uma forma lógica: a lágrima tem elementos químicos em sua composição, e se choramos muito e frequentemente, a lágrima perde esses nutrientes. Neste caso, vai demorar um tempo para que ela volte a se recompor. A visão se torna turva e acabamos por causar outros transtornos, além do que provocou o próprio choro.

Filosofica e cientificamente falando, conclui-se que pesares demais prejudicam a visão. Não se recompõe a lágrima com colírio (só disfarçamos a coisa), da mesma forma que o sorriso é apenas um subterfúgio para os olhos úmidos da secura do raciocínio.

Chorar faz bem, entretanto. Chorem sempre que desejarem e estiverem dissonantes da estabilidade emocional, mas aprendamos a proteger nossos "olhares", substituindo lamentáveis pensamentos por outros bons.