RESPEITO E ALENTO

RESPEITO E ALENTO

 

Eu estava sentado na sala,

Quando senti aromas de café,

E lembrei do etíope que fala,

Ser de lá esse fruto de fé.

 

Levantei e segui esse cheiro,

E a chaleira estava na brasa,

Com o fogão de forno caseiro,

Que também aquecia a casa.

 

Era inverno de grande aconchego,

Numa casa que demarca a colina,

E assentada sobre um tabuleiro,

Dali eu via as vacas de estima.

 

Todo dia, quando o galo cantava,

Logo íamos ordenhar no curral,

Isso enquanto a lenha assava,

Cada fruto colhido no milharal.

 

Foi canjica, mingau e pamonha,

Que serviram com broa e pães,

Tudo quente e sem cerimônia,

Celebrando o nascer das manhãs.

 

Hoje e longe, perante o concreto,

Vem as lágrimas da minha saudade,

E aqui já não sei o que é certo,

Pois me sobra o frio da cidade.

 

São saudades de flores e campos,

E do mato que cheira a carmim,

Na verdade das matas em pranto,

Se as serras lhes causam o fim.

 

Falam tanto como achar a comida,

Pelo pasto que tira a floresta,

Mas se a vida quer nossa acolhida,

É preciso salvar quem dá festa.

 

Só misturando tudo que existe,

Haverá chances para um futuro,

E já temos a morte que insiste,

Quando eu quero o fruto maduro.

 

E por isso, a saudade acompanha,

E me vejo em plena varanda,

Numa estância da bela campanha,

Com o fogo de chão na comanda.

 

Somos todos saudosos de algo,

E me aflora a infância no mato,

Como a casa de taipa e o gado,

Na caatinga de um breve regato.

 

Já não chovia e era bem seco,

Só pra isso as talhas servem,

Sem curral e nem mesmo esterco,

Onde as cobras não me merecem.

 

Beber água que dormiu à lua,

Como as folhas sob o sereno,

Faz a vida ser um Mauna Loa,

Ao querer respeito e alento.

 

Cada dia em que devastamos,

Nossa terra responde matando,

E não há perdão aos enganos,

Que julgamos ser tão humano.

 

Nossa natureza é perfeita,

Mesmo ao castigar os insanos,

Pois o tempo é como a sarjeta,

Onde escorre a seiva dos anos.

 

Se queremos a imortalidade,

Deveremos buscar ser eternos,

Mas pra isso só há uma verdade,

Que se mostra além dos adernos.

 

A verdade traduz o minuto em era,

E as estrelas são luz no escuro,

Que simulam bem mais que quimera,

Pois se formam do sono absurdo.

 

Só por isso não somos melhores,

Desde quando nada sou para o Sol,

Nem mesmo ao se achar inventores,

Não seremos mais que o girassol.

 

Só vivemos porque há os segredos,

Que talvez nos revelem a sorte,

E não adianta inventar os selos,

Para cartas que escondem a morte.