Já fui rio desgovernado,
correndo sem destino,
mas hoje sou brisa suave,
que acalma o meu caminho.
Carrego no peito um raio de sol,
pois já fui nuvem de tempestade,
e na bagagem só trago
o que coube na leveza da idade.
Sei que a vida é feita
de pousos e partidas,
de noites sem lua
e manhãs coloridas.
Como um velho trovador,
que canta sem pressa,
vou tecendo meus versos
na teia da vida acesa.
Todo fruto já foi flor,
toda lágrima já foi rio,
e no peito de quem dança,
até o espinho é esperança.
É preciso raízes
para que a árvore cresça,
é preciso saudade
para que o amor não esqueça.
E assim sigo, sem medir
a poeira dos passos,
porque sei que a estrada
é feita de abraços.
Cada um é seu próprio vento,
seu canto, seu chão,
e no fim, o que fica
é a doce lição:
viver não é chegar,
é deixar seu perfume no ar.