Frente ao caminho

Frente ao caminho

Lizete Abrahão

Tanto tempo passei sobre meus pés...

Longo o caminho, curta foi a viagem.

Chego ao destino sem mim e sem fé;

Nos meus sinais ficou minha bagagem...

Do que guardei não tenho mais que um nada,

Minha nascente secou na poeira;

O hoje é o início de uma madrugada

Que já não tem manhã como soleira.

Do sono que se entorna sobre a vida,

Acordo a Fênix que o meu ninho pisa:

Bato as asas rumo à fonte perdida;

Vontade voa, corpo se graniza.

Da estrada que me resta e não conheço,

Um mundo ouvi e já sei o que vale:

Cega no saber, vejo o que mereço,

Mas o tempo fará com que me cale.

Por isso escrevo assim tão descuidada,

Tento dizer começos e finais:

Não digo; o tudo, mais do que o nada,

Transborda palavras, nascem meus ais.