O último verso

Minhas gotas de ternura
queimam como que ácidas
e como fumaça
tóxica
que me sufoca e maltrata.
O desejo que sinto,
escorre por entre os dedos
como areia fina,
tirada de uma praia
onde vivi como uma ninfa
num universo
que jamais existiu.
Isto não é vida.
Isto não é certo.
Isto não suporto,
não posso...
Preciso atirar-me ao ar
pulando do rochedo da ilusão.
Talvez eu não morra
ao chocar-me com o chão,
pois acho que não sou humana.
Sou um ser poético,
uma chama...
que inflama a sua poética
efêmera e incerta
esperando que seja eterna.
Só percebo que meus versos me traem,
que mentem,
cada vez que os olhares me atravessam
para ver os meus poemas
inscritos em uma fria parede.
E se não sou gente,
amo-te nas vertentes
dos versos incandescentes
que brotam das minhas mãos.
O sol,
queimou-me as retinas
junto com a esperança que eu tinha
de vê-lo ao longe apontar,
trazendo-me de presente
a paixão envolta docemente
em coloridos laços de fitas.
Não escreverei mais um verso sequer
para alimentar o meu suplício.
Não farei mais isso comigo.
E não gastarei,
mais nenhuma rima contigo.