Um poema sem fim


Me vêm estes versos em sonhos...
e ao invés do descanso, fica a minha indisciplinada mente
a metaforizar em meu coração um poema sem fim.


I – o prenúncio da paixão


Para apreender este conceito,
talvez seja preciso uma maior profundidade,
talvez, seja uma questão de maturidade.
Eu sei que decerto em mim existe esta imensa necessidade
de me desmanchar no calor do teu abraço,
e a quase irresistível tentação de consolar-me em outros braços.
Mas é a você que eu quero!
Quero que você aplaque essa minha ansiedade,
que cure minhas insônias,
com os beijos quentes, e doces,
mel que só desejo da sua boca.
Não adiantaria amargar em outros olhos,
os olhares que só a ti quero lançar,
pois não há lugar onde eu possa ir,
lugar nenhum que me tire sua presença...
tão forte, tão sedutora, tão impiedosa.
Os meus olhos pintam desesperados,
quadros de cores doloridas e escarlates
sobre a sua imagem emoldurada em dourado.
Ter as mão atadas, passa a ser circunstância fácil
perto da fatalidade de nem ter mãos para tocá-lo.
Existem sentimentos,
que desembestam por ladeiras desenfreados,
e é difícil prever o resultado.
É queda livre..
corpo, solto no espaço.
Ai... não existe canto nesta situação infame,
no qual possa me esconder às sombras silenciosas da saudade,
ou sob o fino lençol de cetim deste desejo covarde.
Nestes lençóis de desejos,
eu espero possuir a tua carne não em parte,
mas por inteiro.
Estou cega,
e sou incapaz de voltar à terra natal da minha sanidade.
Não consigo voltar à razão,
pois você me atropelou de tal maneira que ontem,
floresciam em mim os lírios brancos do equilíbrio mas hoje,
só vejo canteiros de tulipas vermelhas de paixão,
ao lado da porta irremediavelmente escancarada do meu coração.
Ai... como me dói!
Chega a ser quase insuportável,
talvez na mesma medida em que não é realizável.
Ando por estes tempos a procurar sentido
onde ele não mais existe,
subsiste sim, um magnetismo irresistível
que me entontece e me puxa pra ti.
Ai... que me tortura!
E o toque que desejo neste corpo tão amado
me parecem mil pontas de estiletes afiados.
Não suporto mais...
tenho ido da ventura ao desespero
e quanto mais o desejo,
mais aparta-se de mim o bom senso.
Não me sai da boca o simples e previsível "te amo",
pois este sentimento, me enche de mais encanto,
de mais sonhos, de mais anseios,
de que é capaz minha mera capacidade
de repetir velhos preceitos.
Estou cansada, preciso dormir...
quero voltar a sonhar
mas não com metáforas que se vão condensando
em poemas...
Quero sonhar ser uma gaivota
que corajosamente decide atravessar o mar,
e que contrariando todas as normas da biologia,
as estatísticas ou seja lá que raios,
pousa em sua janela e transforma-se novamente em mulher,
adentrando silenciosamente o seu quarto
e deitando-se ao seu lado pra te beijar.
Venero-te...
de uma forma que nem sou capaz de precisar.

(13/03/2005)


II – o medo diante da paixão


Sentada à beira de manso riacho,
viajam longe meus pensamentos,
viajam na velocidade dos ventos.
Me sinto o próprio vento,
me sinto as palavras,
que florescem quais narcisos
debruçados nos espelhos d'água.
Me sinto narciso,
olhando ao espelho meus próprios sentimentos.
E assim, como só a mim mesma me vejo,
deixo caírem mansamente as lágrimas sobre as águas
que por mim passam fugazes,
como se pudessem levar consigo a tristeza
e tamanha infelicidade.
Às vezes,
parece-me que tudo que há no mundo,
também passa por mim
tranqüilamente descendo o rio.
E assim a vida passa,
expurgando lenta e suavemente
as dores que tanto corroem as almas,
tornando breves os momentos felizes
tornando distantes amizades indispensáveis,
transmutando em pequenos, grandes motivos,
abrandando paixões ardentes
e tornando-as somente
as lembranças de amantes ausentes.
Assim sinto-me eu diante do riacho...
que balbucia aos meus ouvidos sua melodia.
Sons que dizem,
assim é a vida...
a vida é assim...
assim mesmo é a vida...
assim sim...

(16/03/2005)


III – a dependência do ser amado


Esta noite, meu sonho chamou-se saudade...
Esta noite o peso dos dias sem te falar,
caíram sobre mim
como uma enorme pedra de nome exaustão.
A ansiedade rouba-me o sossego
pois te desejo,
e intermináveis lágrimas furtivas
já rolaram e já secaram em meu travesseiro.
Sua ausência deixou marcas em meu corpo,
maiores que qualquer tortura me poderia causar,
e tenho a impressão que pela manhã,
teu nome estará inscrito em cada parte de mim,
como uma tatuagem a me lembrar
quem é o dono deste lugar.
És tu...
que não tens piedade.
Tu tens dos recônditos em mim,
a chave guardada e não a quer me entregar.
Esta noite meus olhos buscaram horizontes
que me foram ocultos pelo manto negro da noite.
Me vi cega mergulhada na escuridão,
tão negra e tão fria,
de nome solidão.
Hoje preciso nomear coisas para sentir-me uma pessoa
pois do contrário,
continuarei a sentir-me sua sombra.
Falo, falo demais...
e justamente hoje precisava ouvir...
Ouvir-te ressoar aos meus ouvidos
como o barulho de ventos fugidios.
Ai como eu te amo!
E no sonho, sonho que te amo ainda mais.
Sonho, sonho que te possuo.
Por breve momento inconsciente,
te tenho meu...
para beijar-te, acariciar-te, bajular-te,
para sussurrar em teus ouvidos
as confissões que só tu sabes ouvir,
as confissões que só quero fazer a ti.
Confesso-te que de ti necessito,
como do ar, como da água.
Mas esta noite,
meu sonho chamou-se saudade...

(20/03/2005)


IV - a submissão à paixão


Esta noite caminho ao seu lado,
e de mãos dadas, roubo-te beijos apaixonados.
Esta noite, só por esta noite
não tenho sonhos desesperados,
somente o sopro leve da tua presença
para aliviar-me este imenso cansaço.
Esta noite não travo batalhas inglórias
com as mãos opressoras da minha insegurança insólita.
Sinto somente um manto de estrelas brilhantes
cobrir-nos suavemente,
enquanto permanecemos sobre a relva,
deitados preguiçosamente
após momentos de êxtase e amor ardente.
Suas mãos finalmente me alcançam...
E me enlaçam tão firmemente
que sinto-me desfalecer
qual uma flor delicada sob efeito do sol quente.
Num suspiro quase inaudível eu confesso
Te quero!
Como a ninguém mais.
E neste sonho repleto de anseios
me vejo tomada
por arrepios a percorrerem meu corpo inteiro.
Cansei de viver de sonhar.
Vou entregar-me a ti meu homem,
meu querido,
deixa-me falar ao teu ouvido
que quero viver de beber da tua saliva,
fazer dela alimento para a minha vida,
fazer de ti
o instrumento mais preciso
do meu desejo e da minha libido.
Tu és tudo que necessito.
E se os olhos do mundo na escuridão da noite
não são capazes de enxergar a quem eu chamo,
eu digo...
eu te digo,
meu bem, meu querido,
é a ti que chamo,
e só a ti eu amo.
Ah, como eu te amo!

(18/06/2005)